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Faculdade de Mangá, de Osamu Tezuka

As lições de um mestre em sua juventude.

Celebrado em seu país como o "Deus do Mangá", o roteirista e desenhista Osamu Tezuka (1928~1989) é famoso por ser o criador de clássicos como Astro Boy, Kimba, Vingadores do Espaço, A Princesa e o Cavaleiro, Black Jack, O Menino Biônico e muitos outros personagens. Mais do que isso, ele é considerado o codificador do moderno mangá. Tendo sido influenciado por autores que já faziam experimentações gráficas e narrativas de muita expressividade, Tezuka foi o elemento que unificou uma série de características que definiriam o moderno mangá.


Sua produção foi gigantesca, muito além dos títulos que se tornaram clássicos, com diversas obras que foram concebidas para serem curtas e não tiveram versão animada, ou que simplesmente foram abreviadas devido às baixas vendas. Algumas obras de Tezuka se tornaram obscuras até no Japão, sendo conhecidas apenas pelos fãs e pesquisadores. Faculdade de Mangá, de 1950, é um desses títulos, lançado no Brasil em 2018 pela editora NewPOP. Nesse título, um exigente professor fala para uma classe de aspirantes a mangaká (criadores de mangá), passando várias dicas básicas. É interessante ler sobre a parte técnica daquela época, as dicas sobre materiais e saber como era, por alto, o processo gráfico, com limitações que hoje desapareceram. Com os avanços tecnológicos, muitos desenhistas de hoje, que trabalham totalmente em ambiente digital, nem sabem o que é sujar os dedos de tinta, o que pode tornar a leitura historicamente bem interessante.

Capa da edição original, de 1950.

A época experimentou uma grande explosão de vendas de mangás, com muitas editoras e artistas disputando a atenção do público. Tezuka usou seu faro para negócios e produziu essa obra, pensando no grande número de jovens que aspiravam seguir a carreira de criadores de mangá. Ao longo da obra, completa em volume único, várias tiras humorísticas e três histórias curtas e independentes são narradas, com o professor sempre aparecendo no final para tecer seus comentários. Nenhuma delas é particularmente interessante, exceto a última, sobre como uma mentira infantil pode ganhar contornos catastróficos. Em todas elas, a combinação de humor e drama que consagraram o autor. Em Faculdade de Mangá, Tezuka ainda estava em busca de uma linguagem própria, fortemente preso aos padrões dos desenhos da Disney. A capa original, de 1950, escancarava a referência, com um reconhecível Mickey desenhado na lousa. E abaixo, um ratinho bem parecido aparece fumando um cachimbo e desenhando o professor. Por questões óbvias de violação de direitos autorais, a capa foi redesenhada para republicações posteriores. Bastante datado e sem a fluidez típica dos trabalhos que consagrariam Osamu Tezuka, é uma obra que potencialmente interessa apenas aos fãs do autor e aos pesquisadores e teóricos da área do mangá ou da cultura pop japonesa. Nesse aspecto, é louvável o trabalho da pequena editora NewPOP, que tem em seu catálogo alguns clássicos quase esquecidos de Tezuka, como Don Drácula, Crime e Castigo (adaptação do romance de Dostoiévsky), Pinóquio e Metrópolis. Tanto quanto as obras mais famosas, essas criações "menores" de Tezuka ajudam a compor um painel bastante interessante da vasta produção do mais importante autor de mangá de todos os tempos. Título: Faculdade de Mangá Título original: Manga Daigaku ~ 漫画 大学 (1950) Autor: Osamu Tezuka Formato: 14 x 21 cm, com 170 páginas Lançamento no Brasil: New POP (2018) Classificação indicativa: 14 anos


Alexandre Nagado


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