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Mangaká da Favela

Atualizado: 5 de jun.

Primeiras impressões e análise de contexto de uma dramática história ambientada no Brasil.

A arte de Minoru Taruro.
A arte de Minoru Taruro.

Hiroto Takei é um mangaká (autor de mangá) profissional que, aos 30 anos, sente-se frustrado e sem motivação. Está há vinte anos criando histórias, sonhando em conseguir publicar uma série regular. Já como profissional, tudo o que conseguiu ao longo dos anos foi publicar três histórias soltas, o que não rende nem mesmo um único volume de compilação, ou tankobon.


Depois de ser convidado por seu editor a tentar ser professor - o que ele entendeu como um aviso de "desista", Hiroto resolve mudar de vida. Decidido a deixar os sonhos para trás e se reorganizar emocionalmente para tentar outra coisa para fazer, ele resolve viajar para o mais longe possível do Japão. Assim, acaba vindo para o Brasil, pois além de ser literalmente do outro lado do mundo, ele sabe português, idioma que aprendeu devido a um interesse amoroso (que, como tudo em sua vida, acabou em rejeição).


Hiroto desembarca em São Paulo, capital, e resolve se basear em instruções vagas dadas por um amigo para chegar até a famosa Avenida Paulista. Ele se perde pela metrópole de modo desastrado e acaba indo parar em uma comunidade. Sua chegada não poderia ser pior.

Assim que pisa na comunidade, é assaltado e presencia um assassinato em plena luz do dia, entrando em pânico e sendo ajudado por um adolescente chamado João. Depois, Hiroto fica intrigado ao ver João desenhando em estilo mangá, despreocupadamente sentado no meio de um depósito de lixo.


O desenhista japonês estava tendo um duro contato com uma realidade que não imaginava, descobrindo o que é uma comunidade, um nome mais socialmente aceitável para o que outrora era chamado de favela.

João: entre a arte a violência, ou entre o sonho e a realidade.
João: entre a arte a violência, ou entre o sonho e a realidade.

João apresenta a Hiroto sua família, composta pela mãe Isabela e os irmãos Gab e Mia. Com uma beleza chamativa, Isabela foi provavelmente mãe adolescente, e seu filho mais velho já é o provedor da casa. Seguindo os passos do pai, Gab trabalha para a facção criminosa I.M., que controla o submundo do Estado de São Paulo, trabalhando com tráfico de drogas, sequestros e assassinatos.


Normalmente pacífica, a comunidade onde vive João está vivendo um clima de guerra, pois a facção criminosa que domina o Rio de Janeiro, a FSL, quebrou um acordo de anos e invadiu os domínios paulistas. A guerra de facções criminosas aumenta a tensão entre os moradores, e as ações vão ficando cada vez mais brutais. João, que trabalha e estuda, é pressionado a entrar para a I.M., o que desespera Hiroto. Este, então, passa a ter como objetivo ajudar João a ingressar no mundo do mangá no Japão, através de um concurso para novos talentos. Há pouco tempo para isso, e João se vê entre a chance de lutar pelo seu sonho e seguir a triste sina de sua família.


Mangaká da Favela é um título que surgiu no Japão em junho de 2024, sendo veiculado como web comic de episódios mensais no site Ichijin Plus. Seus primeiros cinco capítulos foram compilados em um volume lançado simultaneamente no Japão (editora Kodansha) e no Brasil (Panini), um feito surpreendente.


O roteiro apresenta personagens carismáticos e com motivações fortes, em uma trama bastante dramática, movimentada e envolvente. Para autores iniciantes, os comentários de Hiroto ao analisar as artes de João podem fornecer inspiração e insights bem interessantes.


Mas, apesar de tecnicamente muito bem escrito, o roteiro infelizmente cai nos clichês já bastante batidos que caracterizam as narrativas brasileiras envolvendo comunidades, crime e violência do tráfico.


Grande fã de produções brasileiras como a série Cidade dos Homens, o roteirista Sohachi Hagimoto repetiu até mesmo o clichê de mostrar uma polícia corrupta. Outro ponto a se questionar é que, na história, é mostrado que assassinatos à luz do dia e tiroteios são comuns em comunidades, o que não corresponde à verdade. [Nota: Este que vos escreve já foi professor de desenho em uma comunidade de São Paulo e nunca ouviu um único tiro enquanto trabalhou lá.]  

Isabela conta a Hiroto sobre problemas que vivenciam.
Isabela conta a Hiroto sobre problemas que vivenciam.

É importante lembrar que é uma obra de ficção, um drama de ação que carrega nas tintas ao retratar a violência, mas que contribui para firmar estereótipos de orientação ideológica ao demonizar a polícia. Resta saber se as facções criminosas fictícias, que possuem suas correspondentes no mundo real, serão retratadas com ramificações em diferentes setores da sociedade, tornando a trama mais complexa e menos afeita a generalizações e estereótipos.


Em termos de desenho, o artista Minoru Taruro entrega um design de personagens bonito e expressivo, com uma narrativa visual muito boa. Os cenários, feitos com muito referencial fotográfico, são funcionais, mas a página dupla que mostra Guarulhos, no primeiro capítulo, mostra que o autor ainda tem muito a evoluir. Os autores também contaram com uma ajuda de diversos brasileiros na consultoria, a fim de garantir uma ambientação e retratação de ambientes, vestuário e situações que fossem realistas e verossímeis.


Tendo acima de tudo uma história forte e uma narrativa envolvente, Mangaká da Favela é uma obra promissora. Por mais que o tema de criminalidade nas comunidades seja algo um tanto saturado, a jornada de Hiroto e João – ou professor e discípulo – merece ser descoberta por novos leitores.


MANGAKÁ DA FAVELA

Título original: Favera no Mangaka ~ ファヴェーラの漫画家

Roteiro: Sohachi Hagimoto Arte: Minoru Taruro

Tradução: Luana Tucci

Formato: 13,7 x 20cm, com 210 páginas

Lançamento no Brasil: Editora Panini ~ Planet Mangá (2025)

- Classificação indicativa: 16 anos



::: E X T R A :::


  • Versão em vídeo do primeiro capítulo, com trilha sonora e vozes originais, no projeto Mangá Dublado.



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