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O Direito de Não Gostar

A série Kamen Rider BLACK SUN trouxe ao fandom da cultura pop japonesa a mesma polarização que tem contaminado cada segmento social.

Vivemos em uma era que poderá ser conhecida um dia como a era do totalitarismo e das trevas. Trata-se de um tempo de censura, de vigilância e ditadura do pensamento único. Tempo de exaltação da coletividade, do "bem comum" e de um suposto cientificismo, onde o pensamento individual e divergente deve ser ridicularizado, esmagado e até criminalizado em alguns casos. A democracia e a ciência tornaram-se religiões civis e dogmáticas.


Trazendo isso para o universo da cultura pop - que é o que nos interessa aqui - sabemos que há muitas narrativas político-sociais sendo espalhadas em séries, filmes, jogos e animações. Canais como Heróis e Mais, Linhagem Geek e OK Nerd apontam isso muito bem. O tema não é novidade e a política sempre esteve permeando muitas obras; algumas um pouco mais, outras menos. A visão de mundo - seja política ou mesmo religiosa - de autores e produtores sempre molda o resultado final de uma obra, mas cada vez mais a política do momento tem sido o elemento principal das produções, em detrimento de valores perenes. Quando chega num ponto ridículo e panfletário, é a chamada lacração.


No Japão, a política sempre fez parte de muitas obras, mas raramente como elemento central. A Princesa e o Cavaleiro é uma bela história de Osamu Tezuka que lida com honra, coragem, compaixão, lealdade e redenção. Também lida com direitos femininos, mas ninguém aponta que também é uma obra que mostra a Monarquia como um regime que pode ser bem conduzido e levar um povo à felicidade. Isso porque a história da personagem central e suas lutas - pelo reino, pela sua família, pelo seu amor - é o elemento principal, não as discussões sociais. Esse é apenas um exemplo de obra com múltiplas interpretações, onde cada um pode puxar para onde mais lhe interessa ou convém, mas que tem foco nos personagens.


Obras assim fazem parte de um passado mais inocente e o assunto que dominou o fandom de cultura pop japonesa - especialmente de tokusatsu - nas últimas semanas foi a série Kamen Rider BLACK SUN, da Prime Video.


O combate ao racismo - representado na série pelo ódio contra os seres kaijin - é o grande tema da obra e também é seu escudo moral. Como eu disse em minha participação no canal Heróis e Mais, a luta contra o racismo (de qualquer tipo) é louvável, mas isso é somente uma camada superficial do pacote ideológico da série, que possui várias camadas.


Em minhas manifestações, aponto que a série demoniza os nacionalistas, trata todos os policiais como canalhas sem caráter, exalta o ativismo político infanto-juvenil e passa pano para o terrorismo como solução final de conflitos raciais exacerbados. No entanto, criticar qualquer aspecto da série - seja os furos de roteiro, ou qualquer coisa técnica - acaba sendo rebatido com um "se você não gostou da série, isso revela que você é racista". Ou, como disse um famoso youtuber da área: "BLACK SUN é um tapa na cara dos preconceituosos". Um outro ainda disse que a pessoa que não gostou de BLACK SUN revela muito sobre si, alegando que tal pessoa se "sentiu ameaçada em seu direito de ser preconceituosa".


O nome disso é sofisma, uma argumentação que aparenta ser lógica, mas induz a uma conclusão errada propositalmente. Em momento algum, eu ou qualquer outro que não gostou da série, disse ser contra o combate ao racismo (e eu nem branco sou, já que fui registrado como "amarelo"). Também nunca disse ser contra o protagonismo feminino, mas isso é uma arma retórica que poucos identificam. Caímos em outros problemas: O analfabetismo funcional que atinge quase um terço da população juvenil/adulta do Brasil, e o baixo QI do povo brasileiro, cuja média está em 85, a despeito de uma parcela ínfima atingir pontuação acima de 120. (Pesquise para se certificar)


Nesse cenário, que culmina em uma baixa capacidade de percepção de manipulações e mensagens tendenciosas; alguns de inteligência mediana, com boa retórica e desenvoltura, são elevados a formadores de opinião, uns endossando as opiniões dos outros, aumentando a aura de certeza na qual os mais inseguros buscam conforto. Fora quem partiu para o ataque pessoal, tentando ridicularizar, difamar ou demonizar quem não gostou da série. Muitos fãs se sentem na obrigação de gostar de tudo que venha de seu objeto de adoração, e é por isso que nunca me defini como fã de coisa alguma.


Isso, obviamente, não acontece só no Brasil, pois a cada produção lacradora de Hollywood que fracassa comercialmente, os responsáveis e os fãs jogam a culpa em algum tipo de preconceito, sem nunca assumir as falhas da obra. Muitos dos problemas, afinal, recaem nas diferenças entre visões de mundo antagônicas. Um conservador trata como problemáticas as situações que, para um progressista, são virtuosas (e vice-versa). Isso denota visões diferentes de mundo e, sem respeito, não há possibilidade de convivência.


Finalizando, vale lembrar que eu já apontei virtudes na série BLACK SUN; mas ressalto os defeitos que, na minha opinião, superaram as virtudes. Uns gostam, outros não, cada um com seus motivos e preferências. O direito democrático de não gostar de algo, sem ter isso associado a um desvio de caráter ou falha cognitiva, deve ser respeitado.


SAIBA MAIS:

- Kamen Rider BLACK SUN - Review sem spoilers, repleto de curiosidades, contexto histórico e político, mais ficha técnica e avaliação geral. É apenas a minha opinião.


- Kamen Rider BLACK SUN: Política vs Lacração - Texto publicado antes da estreia da série, quando se acreditava que o teor político seria equilibrado. Traz definições e pontos importantes para o debate sobre a politização no entretenimento.


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PS: A quem interessar possa, eu não sou bolsonarista (larguei isso em 2020), não sou direitista, nem sou negacionista, muito menos terraplanista. Hoje em dia, basta opinar sobre qualquer coisa contra o senso comum para ser jogado em alguma definição estereotipada, para te verem como lixo ou como uma besta ignorante. Sou um cristão católico, bastante cético em relação a governos, jornalismo mainstream, empresários e cagadores de regra em geral. Sou politicamente simpático ao tradicionalismo e a aspectos do conservadorismo. Acima de tudo, tenho pensamento independente. Tenho em meus círculos de convivência social, profissional e familiar, pessoas de direita, de esquerda, protestantes, ateus, budistas, espíritas e gente como eu, que rejeita todo e qualquer político ou ideologia. O mundo já está bastante difícil para ficar brigando por causa de seriados e suas visões de mundo.

- Ale Nagado

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"Dez homens são mais fortes do que um. Em relação a quê? Em relação a acorrentá-lo, em relação a matá-lo, em relação a levá-lo para longe quando desejam, em relação a tirar-lhe as posses. Portanto, nisso dez vencem um, nisso são mais fortes. Mas em quê são mais fracos? Se aquele único possuir opiniões corretas e eles não. E então? Nisso podem vencer?"

- Epicteto (55~135) Trecho do livro "Lições de um Estóico"


"Não prostitua sua personalidade em troca de aceitação pelo grupo. É um preço muito alto a ser pago." - Olavo de Carvalho (1947~2022)


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