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Briefing, opinião e independência

Algumas considerações sobre postura editorial e a busca pela credibilidade. É sobre cultura pop, mas vale para muita coisa.

Como ser independente e ter credibilidade seguindo um briefing? (Imagem: Saitama, de One-Punch man)
Como ser independente e ter credibilidade seguindo um briefing? (Imagem: Saitama, de One-Punch man)

Existem, basicamente, três tipos de criadores de conteúdo: o divulgador (que geralmente tem uma "causa" a promover e o faz com paixão), o pesquisador (que gosta de estudar um assunto e transmitir informação com igual paixão) e o crítico (que manifesta um espírito analítico ao comentar uma obra). Não são categorias excludentes entre si, e um criador pode ora inclinar-se para um lado, ora para outro. É importante ter isso em mente para o assunto que vou desenvolver.


Editoras geralmente possuem uma lista de jornalistas, críticos ou influenciadores para quem irão enviar exemplares cortesia de seus lançamentos, em busca de divulgação para seus produtos. Essa divulgação é parte das estratégias de marketing. A maioria dos que recebem cortesias faz uma divulgação animada, que agrada a editora, que por sua vez irá sempre abastecer esse criador com seus lançamentos. Com o preço que estão os livros e quadrinhos (mangá incluso) atualmente, é claro que cortesias sempre são bem-vindas, mas qual o custo disso? Lembre-se: não existe almoço grátis. Logicamente, a editora espera a contrapartida, que é uma divulgação com empenho e que vá trazer mais compradores para o produto editorial. Mas, e se o produto não agradar?


Falar mal de um presente sempre deixa um mal estar com quem deu o presente. O assunto possui muitas ramificações, mas gostaria de contar agora minha experiência pessoal com esse tema espinhoso. No passado, já recebi muitas e muitas cortesias de diferentes editoras. Cheguei a integrar o chamado mailing de empresas, que enviavam notícias sobre lançamentos, além de exemplares de cortesia. Em alguns casos, perguntavam se eu gostaria de ganhar o lançamento, ou se estava em minha área de interesse (o que é uma boa atitude). E já aconteceu de eu receber um exemplar (solicitado ou não) que eu acabei achando ruim. Ou então, se encaixava em algum tema pelo qual eu não tinha o menor interesse ou afinidade.


Em alguns casos, eu simplesmente achava a história enfadonha. Em outros casos, percebia problemas em alguma abordagem contrária a meus valores e não tinha a menor vontade de escrever um review só para aumentar o volume de conteúdo. Seja na versão original do Sushi POP ou em veículos onde escrevi, sempre busquei escrever reviews sinceros, apontando pontos fortes e fracos na edição analisada. Dá para fazer uma análise sincera e embasada, e quando isso acontece, nunca recebi qualquer tipo de reclamação.


Sempre preferi destacar qualidades ao invés de apontar defeitos (mas estes devem ser mencionados, sempre), especialmente ao lidar com autores nacionais iniciantes. Posso ter sido condescendente algumas vezes, mas eu conheço bem as dificuldades de se fazer quadrinhos no Brasil, o que me impele a tentar ser justo e incentivar os autores. Mas já houve casos em que eu simplesmente não fiz review algum, pois não havia gostado nem um pouco do material e achei que não valia a pena gastar tempo só para falar mal. Aliás, com raras exceções, essa é a política deste site, falar do que vale à pena dentro de um conjunto de valores técnicos, artísticos e de conteúdo.

Com tudo tão caro, ganhar cortesias é tentador.
Com tudo tão caro, ganhar cortesias é tentador.

Apesar do exposto aqui, eu não sei se muitos criadores de conteúdo têm esse tipo de dilema moral sobre fazer ou não críticas. Não porque sejam venais, mas por colocarem a paixão por uma causa acima do senso crítico. É o fã criador de conteúdo que acredita que, se não for para falar bem, é melhor ficar quieto. Isso vale não apenas para produtos editoriais, mas também para quem lida com séries, filmes, games ou qualquer produto cultural.


Se o que move o criador de conteúdo é apenas divulgar um nicho, e não trazer opiniões, não há problema algum em apenas repassar as novidades. Aqui mesmo no Sushi POP, especialmente no Boletim, é comum divulgar lançamentos, obras que futuramente poderão ganhar uma análise.


O criador de conteúdo, quando passa a ter contato direto com uma empresa (seja editora, distribuidora ou licenciante), passa a ser visto como um parceiro. Na prática, alguém que vai trabalhar de graça, em troca de acesso aos bastidores e, não raro, presentinhos.


Esses presentes ou vantagens podem vir na forma de produtos impressos ou como informações privilegiadas, acesso antecipado para assistir alguma produção ou algum tipo de benefício. Aí, forma-se, como no caso das editoras, uma relação que é quase como a de prestação de serviços. Isso é trabalhar por amor e em troca de algum benefício, mas sempre se colocando de forma subalterna à empresa. É por isso que eu tenho reservas com a postura do fã que acha que o mais importante é "fortalecer o movimento", tendo receio de ser visto como "traidor da causa".


Calar-se ou mentir sobre suas percepções, ou ter medo de perder privilégios e presentes são coisas que, com o tempo, destroem a credibilidade de qualquer um. Ao menos, perante pessoas com senso crítico e maturidade. (Continua após o anúncio)

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Rádio parceira do Sushi POP.

Já faz um bom tempo, resolvi que não queria mais receber cortesias editoriais ou qualquer tipo de vantagem oferecida por empresas querendo promover seus produtos. Quem faz isso, está sempre sujeito a ficar submetido a um briefing, que é um conjunto de informações e diretrizes para serem seguidas. Claro que é absolutamente diferente quando um amigo lhe envia uma cortesia pessoal, e quem faz isso não costuma pedir reviews ou nada do tipo para "dar uma força". Mas se o material é bom e tem valor, a divulgação vem naturalmente. Ao entrar para um grupo seleto de parceiros de uma empresa, o influenciador passa a ser uma linha auxiliar no marketing dessa empresa, e isso não tem problema algum, desde que a pessoa saiba se posicionar com honestidade, coragem e coerência quando a situação assim o exigir. Seguir fora de hype, não seguir briefing e não ser comprometido com uma causa ou com empresários, certamente não lhe traz benefícios materiais e te faz sempre correr por fora, por não fazer parte da panelinha. Quem assume essa postura, acaba ficando meio de lado, e muita coisa que se faz acaba caindo no ostracismo. Porém, a liberdade de pensamento que isso traz não tem preço, pois reforça um valor inegociável: credibilidade.


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O melhor do Blog Sushi POP.

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