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Festival do Japão: I.A. segue tornando a arte humana "dispensável".

Uma recente polêmica atraiu muitas críticas aos organizadores do tradicional Festival do Japão. (Texto com atualização no final - 15/03)


Do perfil no Instagram do Festival do Japão:

Em 2024, estamos celebrando nosso Jubileu de Prata com o tema Ikigai – Viver com Propósito! 🎈 A Smart Digital, responsável pela comunicação do evento, acaba de finalizar o key visual do FJ2024, usando imagens geradas por inteligência artificial generativa (IA generativa) em todo o processo de criação. 🖼️


Com essa nova identidade visual, o Festival do Japão busca uma linguagem inovadora e moderna, incorporando novas tecnologias para atrair o público jovem. Afinal, 70% da Geração Z faz uso diário da tecnologia, de acordo com pesquisa da Salesforce. É uma mudança significativa em relação às gerações X e Baby Boomer, onde 68% nunca utilizaram inteligência artificial. 💡📱


A primeira versão do cartaz já havia atraído muitas críticas, mas a versão final provocou uma chuva de mensagens criticando a escolha de IA. O Festival do Japão é um evento maravilhoso, já visitei e é realmente algo de grande relevância cultural e social. Mas gostaria de comentar sobre o uso de IA no material de divulgação do evento.


O tema deste ano é IKIGAI - Viver com Propósito, e há um post aqui no Sushi POP sobre o tema. Esse "viver com propósito" é um conceito japonês sobre ter uma atividade que você faz com gosto, algo que o motiva a seguir em frente, que dá sentido à sua vida. Pode ou não estar ligado a seu trabalho. Pois bem, para aqueles que têm na ARTE o seu Ikigai, a sua inspiração para a vida, o uso de IA foi até ofensivo. O discurso publicitário exalta a IA, dizendo que é coisa de jovens, coisa da nova geração. No Japão, artistas e seus fãs têm protestado contra o uso de IA na criação e desenvolvimento de trabalhos artísticos. Isso no país que é o paraíso da tecnologia, e que também é famoso por harmonizar o passado e o futuro, por respeitar tradições e não esmagá-las sob o pretexto da modernidade. O futuro vislumbrado pelas pessoas que abraçaram a IA é um futuro sem alma. No fim, é tudo sobre dinheiro, sobre "economizar" com artistas e ainda assim soar "moderno", "científico", "sintonizado com as novas tendências". Verdade seja dita, a IA é excelente para melhorar a definição de imagens antigas, para restaurar fotos, filmes e ilustrações, para melhorar a nitidez de áudios antigos, para separar sons de gravações musicais e permitir uma remasterização em estéreo de antigas gravações feitas em mono, coisas assim. Não para gerar ilustrações (quase sempre padronizadas e com mãos horrorosas), criar filmes ou sintetizar vozes. Isso não é para ajudar as pessoas em geral, não é para poupar pessoas de trabalhos perigosos ou enfadonhos, é para ajudar quem só se preocupa com dinheiro às custas de sacrificar parte da humanidade e nivelar por baixo o trabalho artístico, tornando-o mecânico, previsível e estéril.


É óbvio que nada vai mudar com reclamações e protestos, ainda mais no Brasil, mas não é porque o mal é irreversível que devemos abraçá-lo e incentivá-lo. Não é sobre arte somente, não é sobre dinheiro, é sobre o IKIGAI.


ATUALIZAÇÃO: Em 15 de março, a direção do Festival do Japão mostrou um novo cartaz, desta vez com fotos de pessoas reais. Eles atenderam ao grande número de reclamações contra o uso de I.A., com um gesto bastante digno. O Boletim Sushi POP 100 irá registrar isso com mais detalhes.



 

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