Demon Slayer: O Castelo Infinito
- Ale Nagado

- 1 de out.
- 6 min de leitura
Uma análise (sem spoilers) sobre o impressionante início da sangrenta batalha final.

INTRODUÇÃO:
No Japão antigo, durante o período Taisho (1912~1926), uma sanguinária horda de demônios conhecidos por oni ameaça as aldeias e cidades. São criaturas que outrora foram humanos comuns, mas que chacinam e devoram pessoas impiedosamente. Para combater essa ameaça, existe um esquadrão de exterminadores formado por jovens treinados em técnicas de combate sofisticadas e ataques mortais. Esses demônios só podem ser mortos cortando-lhes a cabeça ou expondo-os à luz do Sol. O criador desses seres é Muzan Kibutsuji, um ser infernal cujo poder assombroso deve ser detido a todo custo. É o sangue de Muzan que transforma pessoas comuns em demônios devoradores de gente.
O fio condutor da história é Tanjiro Kamado, que teve a família chacinada e tem somente a irmã Nezuko viva, que foi transformada em demônio, mas se manteve ao lado dele sem se tornar maligna. Mais do que vingança, ele busca a cura para sua irmã e luta para impedir que outros sofram ou percam a vida.

Essa é a trama básica de Demon Slayer ~ Kimetsu no Yaiba, uma saga de enorme sucesso surgida no mangá em 2016, que ganhou série de TV em 2019 e mudou paradigmas na indústria de animê com sua produção de alto nível. Vieram outras temporadas e um filme de impacto, com o arco O Trem Infinito (2020), atestando o sucesso da autora Koyoharu Gotouge, que nunca se deixou fotografar e já abandonou a indústria do mangá, sendo um dos grandes mistérios recentes na cultura pop japonesa.
O arco final da obra, que agora ganha adaptação cinematográfica, começa no volume 17 e vai até a conclusão, no volume 23. O estúdio Ufotable optou por dividir esse arco, que é repleto de batalhas viscerais, em três filmes para cinema. O primeiro deles, com o subtítulo O Castelo Infinito, assombrou o mundo com uma produção ainda mais elaborada do que o público estava acostumado.
Para aqueles que se interessaram pela saga com esse filme e não viram nada antes, vale dizer que a maior parte da experiência emocional é perdida, afinal o filme é o início da conclusão de uma saga extensa. Para quem deseja entrar logo no universo da série e ver o mínimo antes do Castelo Infinito, recomenda-se que assista toda a primeira temporada e o filme do Trem Infinito. É pouco, mas ajuda a entender as motivações e o modo de ser de vários personagens.
Então, feita essa contextualização, vamos ao review:

O CASTELO INFINITO - Análise sem spoiler (mas quem viu vai entender melhor o texto)
A história começa em plena ação, com os caçadores de demônios já dentro da estrutura mística conhecida como Castelo Infinito. Eles estão desorientados, tentando se adaptar ao local, um cenário impressionante repleto de torres, corredores e salões, de onde brotam ameaças o tempo todo. Remotamente, o quartel-general dos exterminadores tenta mapear o local, com a ajuda de seus corvos falantes com quem mantêm elo psíquico.
Algumas batalhas decisivas acontecem, como Shinobu contra o sádico demônio Douma, Zenitsu contra seu outrora amigo Kaigaku, e o grande destaque fica para o duelo incansável entre Tanjiro e Giyu contra Akaza, o demônio que matou o nobre Rengoku no passado.
Veloz, com um estilo de luta único e capaz de regenerar seu corpo, o sanguinário Akaza possui uma alma atormentada. Lutador feroz, o segredo de sua aparente invencibilidade é um desafio para a mente tática de Tanjiro. É nesse momento que lembranças do passado se conectam, não apenas para levar o espadachim a analisar corretamente seu inimigo, mas o conduzem a um novo grau de percepção da realidade.
A ação frenética é entrecortada por flashbacks que ajudam a entender os personagens, suas motivações, dramas e sentimentos. Tanto os heróis quanto seus inimigos possuem histórias trágicas, exceto Kaigaku, cujo sentimento de inveja o corrompeu e o levou a buscar mais poder como um oni.
A animação, que combina técnicas tradicionais com CGI, é primorosa, assim como a trilha sonora, que valoriza cada momento do filme.

O roteiro é repleto de momentos emotivos e frases poderosas, que carregam a essência da obra: sentimento de proteção aos mais fracos, autossacrifício, esforço pessoal e redenção. O tema da redenção, que ao longo da saga atinge alguns demônios ao morrerem, é mostrado quase como a visão cristã, colocando o verdadeiro arrependimento como algo capaz de redimir qualquer mal perante a eternidade.
Não se fala em termos religiosos, mas um personagem é visto reconhecendo que, após morrer, não será digno de ir ao mesmo lugar onde estão seus entes queridos, que eram pessoas boas. E desse reconhecimento é capaz de brotar o arrependimento sincero, cujo julgamento escapa a quem está no plano físico. Poucas vezes uma questão transcendental foi colocada de maneira tão forte em um animê de ação. Os acontecimentos da saga, e deste filme especificamente, levam a reflexões profundas e reforçam valores morais que permeiam a obra. Os heróis, como já foi dito, não lutam por vingança, muito menos para testarem suas habilidades ou qualquer motivação egoísta. Os jovens exterminadores de Demon Slayer lutam para salvar vidas e estão sempre prontos a se sacrificar.

Tanjiro, longe de ser o típico protagonista impulsivo de uma obra shonen (para garotos), é um lutador estratégico, tem uma mente brilhante que faz dele um lutador que consegue ir muito além do que se poderia esperar de sua força e suas técnicas de luta. Com muita emoção e momentos poderosos, as mais de duas horas e meia passam voando, um mérito e tanto do estúdio Ufotable.
O filme se tornou a maior bilheteria internacional, não apenas de um animê, mas de um filme japonês, em todos os tempos. O orçamento não foi divulgado, mas especula-se que tenha custado entre 75 e 100 milhões de dólares. A arrecadação, desde a estreia em julho até o final de setembro de 2025, já havia ultrapassado a marca de 616 milhões de dólares.
Que Demon Slayer, com a primeira parte do Castelo Infinito, atropelou grandes estúdios de Hollywood, isso já é fato consumado. Resta saber se o Oscar do ano que vem irá reconhecer as grandes qualidades técnicas e artísticas da obra. Os próximos filmes estão agendados para 2027 e 2029. A espera vai ser longa.
::: FICHA TÉCNICA :::
Demon Slayer ~ Kimetsu no Yaiba: O Castelo Infinito
Título original: Gekijôban - Kimetsu no Yaiba: Mugen no Jouhen / 劇場版「鬼滅の刃」無限城編 ("Kimetsu no Yaiba - O Filme: O Castelo Infinito") Título internacional: Demon Slayer The Movie: Infinite Castle
Estreia no Japão: 18 de julho de 2025 (cinema) Estreia no Brasil: 11 de setembro de 2025 (cinema) Duração: 155 minutos Classificação indicativa (Brasil): 18 anos
EQUIPE DE PRODUÇÃO:
Criação: Koyoharu Gotouge (mangá)
Roteiro: Hikaru Kondo, Aniplex
Character design (principal), chefe de animação: Akira Matsushima
Character design (secundários): Miyuki Sato, Yoko Kajiyama, Mika Kikuchi
Produção de animação: ufotable
Diretor de animação 3D: Kazuki Nishiwaki Design de cores: Yuko Omae Diretor de arte: Koji Eto Diretor de fotografia: Yuichi Terao Trilha sonora: Yuki Kajiura, Go Shiina Produção musical: Aniplex
Diretor geral, diretor de som, diretor musical: Hikaru Kondo
Diretor: Haruo Sotozaki
Produtores: Masanori Miyake, Yuma Takahashi, Tatsuro Hayashi, Takao Shimazaki
Distribuição: Toho, Aniplex
ELENCO (vozes originais)
Tanjiro Kamado: Natsuki Hanae
Giyu Tomioka: Takahiro Sakurai Akaza: Akira Ishida Zenitsu Agatsuma: Hiro Shimono Inosuke Hashibira: Yoshitsugu Matsuoka Shinobu Kocho: Saori Hayami Kanao Tsuyuri: Reina Ueda Mitsuri Kanroji: Kana Hanazawa Doma: Mamoru Miyano Kaigaku: Yoshimasa Hosoya Muzan Kibutsuji: Toshihiko Seki
ELENCO (dublagem brasileira)
Tanjiro Kamado: Daniel Figueira
Giyu Tomioka: André Sauer
Akaza: Charles Emmanuel
Zenitsu Agatsuma: Adrian Tatini
Inosuke Hashibira: Dláigelles Silva
Shinobu Kocho: Tatiane Keplmair Kanao Tsuyuri: Michelle Giudice Mitsuri Kanroji: Patt Souza Doma: Fábio Lucindo Kaigaku: Felipe Zilse Muzan Kibutsuji: Glauco Marques
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