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Os Vingadores do Espaço

É hora de desvendar uma das séries japonesas mais criativas da década de 1960, adaptação de uma obra de Osamu Tezuka.

Goldar, O Vingador Do Espaço. Atrás dele, seu filho Gam, na forma de foguete.

Quando o planeta Terra se torna alvo do conquistador espacial Rodak e seus monstros, o sábio alienígena Matuzen cria uma família formada por três super-heróis robóticos para defender a humanidade.


O mais forte deles é o gigante dourado Goldar, cuja altura é de seis metros, o que a produção da série nunca levava a sério, dando a ideia de que ele podia crescer mais se fosse preciso. Os outros dois são de tamanho e aspecto humanos: A bela Silvar, esposa de Goldar, e o filho deles, Gam.


Na verdade, eles não seriam exatamente robôs ou andróides, mas seres artificiais criados com a magia de Matuzen. E mesmo Goldar, apesar da aparência, não é uma máquina no sentido literal, sendo um gigante forjado a partir do ouro.

Imagem promocional com Goldar, Rodak e o monstro Noronda ao fundo. Note que Goldar está com cinco dedos em cada mão.

No original em japonês, eles são chamados de "roketto ningen", ou "homens-foguete", pois os três são capazes de se transformar em foguetes espaciais que disparam raios e mísseis. Os poderes deles são similares entre si, com raios emitidos das antenas e mísseis do tórax, armas que conseguem usar na forma de foguete. A exceção é Gam, que só dispara foguetes na forma de foguete, por ser muito pequeno quando está em forma humana.


Na Terra, eles se aliam ao repórter investigativo Tom Mura, cujo filho adolescente, Mikko, faz amizade com os heróis e se torna seu protegido e responsável por avisá-los de grandes ameaças. O filho de Goldar e Silvar, inclusive, foi criado inspirado em Mikko, e eles logo se tornam quase como irmãos. Assim, quando há perigo, Mikko usa o apito especial: Com um toque, chama seu amigo Gam, com dois é a vez de Silvar e, com três, chega o imponente Goldar.

Os Vingadores do Espaço em foto promocional, com Goldar, Silvar, Gam e Matuzen. Na série, Goldar nunca assume tamanho humano.

Mura, trabalhando com a ajuda da polícia, investiga as aparições de monstros e os planos de ataque de Rodak. Corajoso e bom de briga, Mura frequentemente se torna protagonista de suas reportagens. Outros repórteres o ajudam eventualmente, como seus amigos Kida e Liz. A mudança, sem qualquer explicação, foi feita no decorrer da série. Do outro lado, Rodak é bastante poderoso e, a bordo de sua nave, há cientistas e seus Homens Lugo, seres sem rosto que, ao serem mortos pelos raios dos heróis, transformam-se em matéria pastosa. E as grandes armas de Rodak são seus monstros gigantes, como Birdaurus, Daron, Molenzaurus, Vacuma e o terrível Kiono, do arco final de episódios. A saga de Magma Taishi (Embaixador Magma) foi o primeiro seriado colorido da TV japonesa, tendo estreado lá em 4 de julho de 1966, 13 dias antes de Ultraman. Baseado em um mangá de 1965 que teve 3 volumes, foi uma das muitas criações de Osamu Tezuka (1928~1989), o “Deus do Mangá” e o codificador da linguagem visual e narrativa das histórias em quadrinhos japonesas.

O mangá original, no traço de seu autor, o lendário Osamu Tezuka.

As histórias eram ingênuas e divertidas, como quase tudo da época, mas alguns roteiros pecavam pelo desenvolvimento, cheio de furos e lacunas. Em um dos primeiros episódios, Mikko e Gam são capturados por Rodak e, no interior da nave, descobrem que haviam crianças vivendo felizes, sem ter que estudar ou fazer deveres. Surpresos, ele ficam até tentados a acreditar que Rodak era bondoso e fazem amizade com a menina Lily. Mas logo eles descobrem que estavam sendo enganados e fogem com a menina.


Lily aparece em três episódios seguidos e até ajuda a desvendar um caso mas, no episódio seguinte, já não aparece mais e não é feita qualquer menção ao seu destino. Mesmo o grupo de crianças a bordo da nave de Rodak nunca mais é mencionado, entre outros furos, não muito incomuns na época. A nave é destruída ao final da série e os produtores aparentemente se esqueceram de que havia um grupo de crianças vivendo lá dentro.

Masumi Okada, em cena de Latitude Zero.

O estúdio P-Production (o mesmo de Spectreman e Lion Man) fez um trabalho esforçado e com vários méritos. Não conseguia acompanhar a qualidade técnica da Tsuburaya Productions (o estúdio dos Ultras), mas fez o suficiente para os padrões televisivos da época. E ainda na fase de testes, a produção tentou uma fantasia que deixava o rosto do dublê Tetsuya Uozumi à mostra, pintado de dourado. Ficou meio estranho (ok, ficou ridículo) e optaram pela elegante máscara de expressão estática.


Apesar de alguns deslizes e das limitações orçamentárias, era uma série prestigiada, que ganharia ainda mais peso com o passar do tempo com nomes que já eram ou se tornariam extremamente famosos no Japão. O grande destaque do elenco na época da estreia era o renomado astro Masumi Okada (1935~2006), que viveu o heroico Tom Mura. Ele nasceu na França, sendo filho de um japonês e uma dinamarquesa e; no Japão, tornou-se ator, cantor, apresentador, comediante de stand-up e até produtor. Trabalhou em outro clássico do tokusatsu, o filme Latitude Zero (1969), além de uma infinidade de filmes e dramas no cinema e TV. Como produtor, foi responsável pelo grande sucesso Battle Royale (2000). Faleceu em 2006, aos 70 anos.

O grupo Four Leaves, no final dos anos 1960. Toshio Egi, o Mikko, é o que está no canto esquerdo da foto.

O garoto Mikko foi vivido por Toshio Egi, que tinha 14 anos na época e já era um ator experiente, tendo iniciado carreira com apenas 7 anos. Tornou-se um ator de destaque, com muitas atuações em filmes e dramas, tendo tido também uma carreira musical relevante.


Logo após o final da série, em 1967, ele integrou o grupo vocal Four Leaves, que ficou em atividade até 1978. Foi um dos primeiros projetos de boys band da agência Johnny and Associates, que inventa novas bandas de cantores-atores-dançarinos até hoje. Com um público fiel e nostálgico, o Four Leaves retomou atividades entre 2000 e 2009, tendo realizado shows e participado de vários programas de TV.

Silvar foi vivida pela atriz Ranfan Ou, que construiria uma fama de mulher sedutora.

A atriz Ranfan Ou, que interpretou Silvar, também já era conhecida na mídia e fez carreira trabalhando uma imagem sensual. Além de ensaios ousados para a época, ela também gravou discos onde sussurrava monólogos dramáticos, provocantes e até gemia simulando sexo, tudo com trilhas de jazz ao fundo.


A década de 1970 foi a época em que os discos chamados de Pink Mood fizeram algum sucesso, seduzindo homens solitários (até por que não era coisa para ser ouvida na presença de outras pessoas). Nascida na Inglaterra e filha de um chinês e uma japonesa, ela também é conhecida como Shigeko Sannose, estando atualmente afastada dos meios artísticos. A coadjuvante Liz foi vivida pela atriz Edith Hanson, que é americana e fixou residência no Japão, tornando-se também escritora e ativista política, tendo dirigido o escritório japonês da Anistia Internacional.


A primeira tentativa de gravar um episódio-piloto foi feita com o rosto do dublê pintado. Não ficou bom e optaram por uma máscara estática.

Uma tentativa que não deu certo.

Devido às condições técnicas de captação de áudio na época, era comum filmes e séries com cenas externas terem que passar por dublagem feita em estúdio, a cargo dos próprios atores. E isso causou uma situação curiosa nos bastidores.

Hideki Ninomiya, o Gam, sofreu um pequeno acidente e não pôde comparecer à gravação de vozes para os episódios 41 e 42, ocasiões em que teve a voz da dubladora Masako Nozawa. Nascida em 1936 e ainda em atividade mesmo após os 80 anos, ela é a voz oficial de Son Goku (entre outros personagens) em todas as séries, filmes e especiais da longa saga do animê Dragon Ball.


Além desse acontecimento, o requisitado astro mirim Hideki Ninomiya precisou ser substituído na gravação de dois episódios (17 e 20) para poder atuar no filme Daimajin Gyakushu, grande clássico do tokusatsu lançado no final de 1966. Outro nome de destaque no elenco foi Toru Ohira, que vestiu a roupa de Rodak e fez a voz do vilão. Alguns anos depois, interpretou o Chefe Kurata em Spectreman e fez o narrador de Goggle V, Jaspion, Spielvan, Jiraiya e muitas outras séries.

Daron, uma das criaturas de Rodak.

A saga de Goldar e sua família fez um bom sucesso no Japão, sendo que consta que chegou a um pico de 32,7% de audiência na segunda metade da série, um feito notável. O mangá, publicado na revista Shonen Gaho (Ed. Shonen Gahosha), foi originalmente planejado para ser compilado em apenas um volume, mas graças à série acabou sendo esticado até completar três volumes, com os assistentes de Tezuka fazendo a maior parte do trabalho. E para acompanhar a série de TV, os 52 episódios foram transcritos na forma de contos ilustrados por diferentes desenhistas na revista Shonen King. Nos EUA, Magma Taishi foi lançado como Space Giants e fez também um grande sucesso. Lá, a maioria dos nomes foi alterada e foi essa versão que predominou no ocidente. No Brasil, chegou através da TV Tupi (RJ) em 15 de junho de 1969. Logo depois, passou um tempo na TV Bandeirantes de São Paulo. Fixou residência na TV Record ainda na década de 1970 com o título Vingadores do Espaço, onde ficou até a primeira metade da década de 80.

A versão animê de Goldar surgiu em 1992.

Em 1992, foi lançada uma série em animê para vídeo com 13 episódios, dirigidos por Hidehito Ueda. Para a produção, o ator Toru Ohira (1929~2016) reprisou seu papel clássico, ao fazer novamente a voz do vilão Goa (Rodak). Não fez muito sucesso em comparação com a série de TV e Magma Taishi é muito mais lembrado por sua versão tokusatsu do que em mangá ou animê. Em meio a uma produção tão extensa e de enorme impacto cultural e social, Magma Taishi quase passa despercebido entre as obras de Osamu Tezuka, que criou ícones como Tetsuwan Atom (Astro Boy), Phoenix, Kimba, Black Jack e A Princesa e o Cavaleiro. Mas, tendo gerado uma série de TV divertida e cheia de carisma, Magma Taishi tem seu lugar garantido por sua relevância em uma época de explosão criativa e muita experimentação.


Vídeo promocional com um breve resumo da série:


::: FICHA TÉCNICA :::

OS VINGADORES DO ESPAÇO Título original: Magma Taishi (Embaixador Magma) ~ マグマ大使 Estreia no Japão: 04/ 07/ 1966 (TV Fuji) Número de episódios: 52 Criação: Osamu Tezuka Planejamento: Tôkyu Agency Roteiro: Souji Ushio (também conhecido como Tomio Sagisu), Hiroyasu Yamaura, Susumu Takaku, Shigeru Ume, Junichirou Uchiyama e Toshiro Ishidou Trilha sonora: Naozumi Yamamoto Direção de efeitos especiais: Shinsuke Kojima e Takeo Sakai Direção: Bin Kato, Keinosuke Tsuchiya, Mamoru Nakao, Shigeru Ume, Sadao Funatoko e Kou Kikuchi Realização: P-Production, TV Fuji, Tôkyu Agency Emissoras no Brasil: TV Tupi, TV Bandeirantes (atual Band) e TV Record ELENCO: - Os nomes originais, quando diferentes da versão vista no Brasil, aparecem entre parênteses. Mikko (Mamoru Murakami): Toshio Egi Tom Mura (Hiroshi Murakami): Masumi Okada Goldar (Magma): Tetsuya Uozumi (suit actor) e Yoshio Kaneuchi (voz) Silvar (Mol): Ranfan Ou Gam: Hideki Ninomiya, Tsuguaki Yoshida (*)

Matuzen (Earth): Gen Shimizu

Tomoko Mura (Tomoko Murakami): Machiko Yashiro Kida: Ryôu Kuromaru Liz: Edith Hanson Rodak (Goa): Toru Ohira

Dublês e suit actors: Japan Fighting Actors (JFA) (* ) Ator substituto nos episódios 17 e 20.

Capa do single da música de abertura, aproveitando a arte do mangá de Tezuka.

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