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Ale Nagado

Top 10: Longas em animê

É hora de relembrar momentos marcantes do cinema japonês de animação, na visão do autor deste blog.

AKIRA, Macross, Your Name e Capitão Harlock.

Filmes para cinema exigem um grande poder de síntese narrativa e um apuro visual geralmente bem superior em relação ao que é feito para a TV ou web. São feitos para serem vistos em tela grande, e isso tem grande peso nas escolhas do diretor. No Japão, muitas séries ganham especiais de cinema, onde muitas vezes o que se vê é um episódio esticado, sem grandes preocupações ou investimentos para entregar um produto de alto nível. E há os estúdios e diretores que se esmeram em fazer de seu longa uma experiência sensorial única, contando grandes histórias com técnica e emoção. Nesta postagem, irei comentar sobre longas em animê que considero especiais, todos com valor cinematográfico e momentos épicos. Não revi nenhuma produção para esta postagem, fiz questão de puxar tudo de memória (exceto as fichas de produção, claro) para fazer um balanço do impacto que tiveram em mim. Afinal, tanto quanto gosto, estamos lidando aqui com memórias afetivas. Não são os 10 melhores animês de longa-metragem de todos os tempos, mas sim os meus favoritos, entre os que efetivamente assisti. Mesmo assim, tentarei expressar aspectos técnicos que considerar relevantes. Com isso, consegui resgatar um pouco da própria história das exibições de animê no Brasil. Em tempo, lembro que o primeiro animê de longa-metragem exibido no Brasil foi O Pequeno Príncipe e o Dragão de Oito Cabeças ("Wanpaku ouji no orochi taiji", 1963), exibido no Brasil em diversas emissoras, desde os anos 1970.


Finalmente, aviso que essa ordem de preferência é vagamente aproximada, podendo mudar de tempos em tempos. Então, os meus 10 animês para cinema favoritos de todos os tempos (por enquanto) são estes:


1) Capitão Harlock e Sua Nave Arcádia (1982)

Título original: Waga Seishun no Arcadia ("Arcádia de minha juventude")

Criação e história original: Leiji Matsumoto

Roteiro: Yoichi Onaka

Direção: Tomoharu Katsumata

Produção: Toukyu Agency e Toei - O primeiro longa de animê que assisti em vídeo, lá pelo final dos anos 80, quando saiu em fita VHS pela Brazil Home Video (atual Sato Company). Fui ver de curiosidade, por achar o traço muito parecido com o da Patrulha Estelar, meu animê favorito de todos os tempos. Era uma história sombria e triste sobre o pirata Capitão Harlock e seus amigos contra a tirania que dominou a Terra. Batalhas e momentos épicos, com os valores de lealdade, proteção e sacrifício típicos da obra de Leiji Matsumoto. Lá estão todos os arquétipos do autor, que utiliza um elenco reduzido de personagens e os desenvolve de formas diferentes a cada obra. Assisti três ou quatro vezes na época, sendo que a canção-tema homônima de Teppei Shibuya me emociona até hoje, de tão bonita. Na década de 1990, foi exibido na TV Manchete como uma minissérie em 5 partes.


2) Be Forever Yamato (1980) Título original: Yamato yo Towa ni ("Para sempre, Yamato") Criação: Leiji Matsumoto e Yoshinobu Nishizaki Roteiro: Toshio Masuda, Eimei Yamamoto e Keisuke Fujikawa Direção: Toshio Masuda e Leiji Matsumoto Produção: Academy Productions e Group TAC - Em São Paulo (capital), aconteceu em 1988 um festival de animação japonesa no telão do SESC Pompéia, organizado pelo fã-clube ORCADE - Organização Cultural de Animação e Desenho (do qual eu viria a fazer parte posteriormente). Entre as atrações, estavam sendo anunciados dois longas da Patrulha Estelar. Como grande fã da saga e tendo apenas as memórias da TV Manchete, que exibiu duas séries da saga Yamato nos anos 80, fui assistir. O impacto foi colossal. A história dava sequência a um outro filme, este feito para a TV, que havia mostrado a luta da Patrulha Estelar contra a ameaça do Império Golba. Com a Terra dominada, o Yamato parte para o mundo Golba, apenas para descobrir que é a... Terra do futuro! Ou algo muito parecido. Na tripulação, destaque para Sasha, filha da falecida rainha Star-sha e de Mamoru, irmão do Capitão Kodai (Wildstar, na versão ocidental). Sendo filha de um terráqueo e uma alienígena, Sasha teve crescimento acelerado e se apresenta como uma bela oficial, que se torna decisiva na batalha contra Golba. A história em si não tem grandes atrativos, mas o narrativa é envolvente, com imagens grandiosas e cenas altamente emocionais. O grito de desespero de Kodai no final, ao disparar o Canhão de Ondas do Yamato, permanece um dos momentos mais tristes e intensos da franquia. Sasha e sua mãe Star-sha aparecem no encerramento dos episódios da série III, em uma cena tirada do final de Be Forever Yamato.

3) AKIRA (1988) Criação e história original: Katsuhiro Otomo Roteiro: Katsuhiro Otomo e Izou Hashimoto Direção: Katsuhiro Otomo Produção: Tokyo Movie Shinsha - Versão para cinema do aclamado mangá de Katsuhiro Otomo, foi um dos animês mais autorais de todos os tempos, com o autor profundamente envolvido na produção. Foi o primeiro animê exibido em cinemas no Brasil, tendo um sucesso razoável e grande aclamação da crítica especializada. A animação é soberba, a trilha sonora de Shoji Yamashiro é impactante e Akira foi considerado um marco técnico da animação japonesa. Destaque para o uso arrojado de cores, especialmente em cenas noturnas, e na movimentação de sincronia labial nas falas, algo que era comum na Disney, mas se mantinha inexplorado na animação japonesa. Na história, Kaneda e sua gangue de desajustados se vê no meio de uma grande conspiração, quando seu amigo Tetsuo desperta um poder mental destruidor e enlouquece. O que os militares temem é o despertar do paranormal Akira. O mangá também foi publicado no Brasil, pela Ed. Globo, em versão colorizada nos EUA e com ordem de leitura ocidental. Posteriormente, foi lançado em versão mais fiel ao original em 2017, pela Editora JBC.

4) The Galaxy Express 999 (1979)

Título original: Ginga Tetsudô 999 (Three-Nine)

Criação e história original: Leiji Matsumoto

Roteiro: Shiro Ishimori

Direção: Rin Taro

Produção: Toei Animation


- Uma das mais emblemáticas obras de Leiji Matsumoto, Galaxy Express 999 é uma história sobre amadurecimento. Em um futuro sombrio, um garoto tem a mãe assassinada em uma caçada humana promovida por homens robotizados. Nessa época, os ricos conseguem uma vida eterna transplantando seus cérebros em corpos mecânicos. Tetsuro embarca no trem espacial Galaxy Express 999, que imita uma antiga locomotiva, em busca de vingança. Conhece a misteriosa Maetel, que se torna sua companheira de viagem. Em certo momento, conhece o pirata Capitão Harlock, que aparece pouco, mas rouba a cena.


Assisti a essa preciosidade no cinema, em uma mostra de animação japonesa realizada nos anos 90 no MIS - Museu da Imagem e do Som. Há uma cena antológica na qual Tetsuro encontra o depósito dos corpos que foram abandonados por seu donos, presos em um grande bloco de gelo sob o piso. A imagem começa num plano fechado, com Tetsuro se assustando ao ver um corpo sob o chão transparente. Então, a câmera abre e mostra inúmeros corpos em suspensão, em vários níveis. A cena é devastadora e tem seu impacto ampliado em tela grande. O tema de encerramento do grupo Godiego, tocado após um desfecho emocionante, gruda nos ouvidos. Não por acaso, é uma das anime songs mais famosas de todos os tempos.


Curiosidade: O roteirista Shiro Ishimori é primo do lendário autor de mangá Shotaro Ishinomori. Adotou o sobrenome do primo famoso, mas não o alterou depois, quando Ishimori mudou seu sobrenome artístico para Ishinomori, nos anos 80.


5) Your Name. (2016)

Título original: Kimi no Na wa ("Seu nome é...") Criação e história original: Makoto Shinkai Roteiro e direção: Makoto Shinkai Produção: CoMix Wave Films


- A criativa história dos adolescentes que trocam de corpo e acabam se conhecendo e se apaixonando um pelo outro se tornou o maior sucesso da animação japonesa pelo mundo. O Realismo fantástico de Makoto Shinkai e um senso de poesia conquistaram milhões de fãs. É uma história sobre valores, empatia amor que ultrapassa distâncias e o tempo.


Cenários maravilhosos, reviravolta, personagens carismáticos e uma trilha sonora hipnótica da banda Radwimps. Muito além do hype criado, Your Name é uma obra cinematográfica de grande beleza e que projetou Shinkai como um dos grandes diretores de sua geração.


Não consegui assistir no cinema, e tive que ver na TV mesmo. Poucas vezes lamentei tanto ter visto em tela pequena. Gostei tanto que Your Name veio direto para a minha lista de filmes favoritos, composta majoritariamente por obras bem mais antigas e carregadas de nostalgia.


6) Final Yamato (1983)

Título original: Uchuu Senkan Yamato - Kanketsu Hen ("Encouraçado Espacial Yamato - Capítulo final")

Criação: Leiji Matsumoto e Yoshinobu Nishizaki

Roteiro: Eimei Yamamoto, Kazuo Kasahara, Eiichi Yamamoto, Yoshinobu Nishizaki e Toshio Masuda Direção: Tomoharu Katsumata e Yoshinobu Nishizaki Produção: Toei Animation - Vindo de uma galáxia distante, o Império Dinguil usa como arma o planeta Aquarius, totalmente composto de água. Movido por um sistema de teleporte da grande Cidade Satélite Uruk, Aquarius se aproxima do mundo-alvo e a atração gravitacional desloca gigantescos vagalhões que fluem pelo espaço e causam destruição. Com a volta do Capitão Okita antes dado como morto, a tripulação parte para o ataque, numa missão que custará dolorosos sacrifícios.


Assisti no mesmo festival do SESC Pompéia onde vi Be Forever Yamato, e posteriormente consegui comprar o DVD japonês oficial. A história tem ótimos momentos e cenas tensas e eletrizantes, mas o final é bastante arrastado, numa tentativa de tornar mais solene e dramático o sacrifício da nave.

7) Macross A Batalha Final (1984) Título original: Chou Jikuu Yousai Macross - Ai oboteimasu ka? ("Super Fortaleza Dimensional Macross - Você se lembra do amor?") Criação: Studio Nue Roteiro: Shiro Ishimori Direção: Noboru Ishiguro e Shoji Kawamori Produção: Big West, Tatsunoko Production, Mainichi Housou e Shogakukan - Versão para cinema da série de TV conhecida no Brasil por sua adaptação americana, Robotech. A guerra espacial envolvendo os humanos vivendo na fortaleza espacial Macross e os conquistadores Zentraedis ganhou ares de superprodução, com maquinário mais detalhado e efeitos visuais de alto nível. A trilha sonora pop conquistou o público tanto quando os robôs de aspecto realista e funcional. O roteiro trazia romance açucarado, um triângulo amoroso digno de novela e a mais estapafúrdia solução: Parar uma guerra com uma canção de amor ecoando pelo espaço (!), graças à voz angelical da idol Lynn Minmey. Toda essa tolice juvenil ganhou ares grandiosos e o resultado ficou bem divertido, se não levar a sério. O longa foi lançado no final dos anos 80 em fitas VHS pela Brazil Home Video (Sato Company). Assisti em vídeo mesmo, e vi várias vezes, tanto pelas cenas de ação quanto por ter realmente gostado das canções. Fora isso, o traço do character designer Haruhiko Mikimoto estava em seu auge, sempre muito expressivo e elegante.

8) Sarabá Yamato (1978) Título original: Sarabá Uchuu Senkan Yamato - Ai no Senshi Tachi ("Adeus, Encouraçado Espacial Yamato - Os Guerreiros do Amor") Criação: Leiji Matsumoto e Yoshinobu Nishizaki História original: Leiji Matsumoto Roteiro: Toshio Masuda, Eimei Yamamoto e Keisuke Fujikawa Direção: Toshio Masuda e Leiji Matsumoto Produção: Toei Animation - Uma gigantesca fortaleza voadora, disfarçada de cometa, se aproxima da Terra para conquistá-la, gerando uma terrível guerra interplanetária. O longa original da batalha da Patrulha Estelar contra o Cometa Império e os sobreviventes do Império Gamilon. O final trágico demais - e que não dava margem à continuação - foi muito criticado pelos fãs traumatizados. A solução encontrada foi recontar a saga na forma de uma série de TV, com mudanças significativas na história. A série, considerada a segunda temporada do Yamato, foi exibida nos anos 80 pela TV Manchete. No embalo da compra do primeiro videocassete da família, em 1989, encontrei uma locadora de filmes japoneses no meu bairro e achei essa preciosidade. Não foi o primeiro longa do Yamato que vi, mas foi surpreendente ver como era a história original da saga do Cometa Império. Emocionante e poético, a investida final da espaçonave se torna um cortejo fúnebre repleto de honra e sentimento de dever cumprido. Arrepiante!

9) Sussurros do Coração/ Whisper of the heart Título original: Mimi wo sumaseba ("Se ouvir bem...") Criação: Aoi Hiiragi Roteiro: Hayao Miyazaki Direção: Yoshifumi Kondo Produção: Studio Ghibli - Um delicado romance juvenil sobre sonhos, encontros e desencontros da vida, com imagens encantadoras. Cenas de cotidiano, personagens com sentimentos puros e um senso de encantamento e otimismo em uma obra com a marca do Studio Ghibli. A canção-tema "Country Road" é a versão em japonês de um clássico do country "Take me home, country roads", de Jonh Denver. O resultado é adorável e combina perfeitamente com a história. Assisti essa obra em uma fita de vídeo "alternativa" que comprei no mesmo ano de lançamento. Deve ter sido incrível para quem viu no cinema. No Japão, foi exibido acompanhado de um curta chamado On Your Mark, escrito e dirigido por Miyazaki sobre uma canção de CHAGE and ASKA. Curiosidade: Foi o único longa dirigido por Yoshifumi Kondo, que faleceria em 1998, aos 47 anos, vítima de um aneurisma. Ele era visto como um sucessor de Hayao Miyazaki e sua morte precoce abalou profundamente o veterano diretor.

10) Street Fighter II Movie (1993) Baseado no game Street Fighter II, da Capcom Roteiro: Gisaburou Sugii e Kenichi Imai Direção: Gisaburou Sugii Produção: Group TAC e SEDIC - A primeira adaptação de Street Fighter II para o animê trouxe uma grande fidelidade ao jogo, mostrando os amigos Ryu e Ken em lutas fantásticas pelo mundo. Acabam sendo peças-chaves contra os planos da organização Shadaloo, que é perseguida pelo militar Guile e a lutadora Chun Li. Com um roteiro simples e ágil e uma animação excelente, o renomado diretor Sugii conseguiu um grande sucesso comercial. Uma bela e generosa cena de nudez de Chun Li no banho - puro fan service - foi cortada no ocidente, mas todo garoto da época deu um jeito de ver a cena original em fitas piratas. Outro problema foi a substituição da trilha sonora original por rock americano da época, o que não funcionou bem. SF II Movie foi o segundo longa em animê exibido em circuito comercial nos cinemas brasileiros. Assisti em tela grande em 1995, numa sessão para convidados. Eu estava bastante envolvido com a franquia, tendo trabalhado na versão para quadrinhos da Editora Escala e tendo sido o editor das revistas oficiais lançadas na época. Isso sem contar várias matérias sobre Street Fighter para a revista Herói. Menção honrosa: - Filmes que quase entraram na lista: O Jardim das Palavras, Cowboy Bebop - O Filme, Meu Vizinho Totoro, Robot Carnival, Demon Slayer - O Trem Infinito. Este último eu vi há alguns meses e é muito cedo para colocar no top 10 (mas provavelmente entra, só não sei qual filme irei tirar....).

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