Editorial sobre a liberdade artística no Japão. E mais: Surge Ultraman Arc, o final de Super Campeões, a voz de Yuko Suzuhana e a situação dos animadores japoneses.
[ 1 ] EDITORIAL: Partido Comunista Japonês em campanha por censura a desenhistas de mangá:
O Partido Comunista Japonês, junto com entidades feministas, está em uma cruzada contra representações sensuais de mulheres nas áreas do mangá, animê e games. No final de março, o partido anunciou que irá entrar com uma queixa formal na ONU para exigir que os desenhistas japoneses sejam proibidos de desenhar mulheres sensuais em mangás.
Segundo apurou o site Bounding Into Comics, esse movimento veio após uma pesquisa que avaliou interesses do público masculino e está em sintonia com as discussões que têm acontecido no mundo dos games sobre eliminar a beleza e sensualidade de personagens femininas. Tudo em nome de um pretenso combate a estereótipos de beleza, sexualização, machismo e questões de gênero.
Em uma curiosa inversão de papéis já apontada por diversos pensadores, a esquerda está assumindo o papel de vigilantes da moralidade e incentivadores da censura, que são coisas outrora associadas a grupos de direita. Os motivos, no entanto, são outros. Se os grupos de direita agiam motivados por uma defesa da moralidade cristã, os de esquerda agem por clamores de agendas identitárias e ideologias políticas.
Tudo isso pode levar a questões anedóticas. Qual o limite para o que é "normal" ser considerado "errado"? Seios grandes (que existem no mundo real, afinal de contas) serão considerados "imorais" a partir de que tamanho? As editoras terão um comitê para analisar essas coisas? Será criado um novo imposto local para financiar estudos e bancar consultores para analisar obras antes delas serem liberadas? Que há excessos, creio ser algo óbvio para quem conhece um pouco a vasta produção de mangá e animê, mas será que pedir por intervenção da ONU não é algo fora de proporções? E, pior ainda, busca atribuir um papel regulatório a burocratas de uma entidade que não tem conseguido cumprir sua missão primordial, que é manter a paz e a cooperação entre os países.
E que fique bem claro que este site não está fazendo uma defesa incondicional da liberdade de expressão, que em si é um valor liberal. A liberdade de expressão ou de discurso leva tanto a distorções nocivas (como permitir a promoção de coisas abjetas) quanto serve de justificativa para mais controle sobre o senso comum e a opinião pública, dentro de uma ideia de "liberdade com responsabilidade".
Fundado em 1922, o Partido Comunista Japonês é o mais antigo partido político em atividade no Japão e conta com cerca de 270 mil integrantes. O partido já havia condenado publicamente um recente game da série Dragon Quest por praticar "estereótipos de gênero" e por "excesso de sensualidade". Alinhados com as agendas identitárias globalistas, os comunistas japoneses investem contra a indústria da cultura pop local, querendo regular e cercear um meio que ainda incentiva trabalhos autorais, além de promover o surgimento de novos autores e abordagens.
Toda essa discussão não é nem sobre respeito ao corpo feminino e nem sobre liberdade de expressão. É sobre desejo de mais controle social.
[ 2 ] Novo Ultraman é apresentado ao público:
No último dia 5 de abril, a Tsuburaya Productions soltou o primeiro trailer de sua nova série, Ultraman Arc, bem como liberou as primeiras informações sobre o enredo e produção.
Após um evento que ficou conhecido como K-Day (Kaiju Day), monstros gigantes surgem pelo mundo, e no Japão são combatidos pela SKIP - Scientific Kaiju Investigation and Prevention. Um de seus integrantes é o jovem Yuuma Hise, que quando criança, sobreviveu ao ataque de um monstro gigante enquanto acampava com seus pais. Dotado de grande imaginação e senso de proteção aos mais fracos, ele se torna o hospedeiro humano de Ultraman Arc, um novo Gigante de Luz a proteger a Terra.
Yuuma será interpretado pelo ator Yuki Totsuka, ainda um novato no campo da atuação. O diretor principal será Takanori Tsujimoto, com a composição da série a cargo do também roteirista principal, Jun Tsugita. Ambos já trabalharam em séries Ultra, mas é a primeira vez que estarão à frente de uma produção. O elenco principal ainda não foi anunciado.
Pelas poucas cenas exibidas, é perceptível que o orçamento da série é inferior ao de Ultraman Blazar (2023), e a série aparentemente tem um público-alvo mais infantil do que infanto-juvenil. De qualquer forma, ainda resta aguardar por maiores informações e um trailer mais extenso.
No primeiro vídeo liberado, uma coisa que chama a atenção no final é que o título da série é mostrado com um fundo que remete ao clássico O Regresso de Ultraman, de 1971. Não se sabe se isso é apenas uma referência aleatória ou se algum elemento da antiga série estará presente, lembrando que o icônico ator Jiro Dan faleceu em 2023.
Ultraman Arc irá estrear no Japão no dia 6 de julho próximo, sendo exibido aos sábados no horário das 9 da manhã. Devido ao fuso horário japonês estar 12 horas à frente do Brasil, aqui a exibição simultânea pelo YouTube será sempre de sexta-feira, às 21h, assim como tem sido nos últimos anos.
[ 3 ] Captain Tsubasa - Super Campeões - chega ao fim:
Conforme anunciado no ano passado, o mangá Captain Tsubasa, conhecido no Brasil por sua versão em animê Super Campeões, chega ao final, com a conclusão de Captain Tsubasa - Rising Sun. O autor Yoichi Takahashi, de 63 anos, se aposenta após concluir a saga que durou 43 anos no mangá e gerou diversas adaptações.
O capítulo final mostra Tsubasa, aos 23 anos de idade, como capitão da seleção japonesa de futebol, indo participar dos Jogos Olímpicos. Com o encerramento do mangá, entretanto, a saga de Tsubasa não está realmente encerrada. Novas histórias serão publicadas on-line, mas sem a cansativa periodicidade semanal que a revista Shonen Jump exige.
Agora, Takahashi irá se permitir reduzir bastante o ritmo de trabalho, curtindo uma semi-aposentadoria, ou uma nova fase de sua carreira. Novas histórias sairão conforme ele tiver inspiração e disposição. Está certíssimo, e tem todo o direito do mundo de administrar sua carreira de modo mais leve, após décadas de produção intensa e um sucesso que lhe trouxe estabilidade financeira e conforto merecidos.
As novas histórias, quando disponíveis, serão publicadas no site oficial. A expectativa para a retomada em formato digital é o segundo semestre deste ano, durante o verão japonês, conforme publicação no site Kyodo News.
[ 4 ] Metade dos animadores do Japão trabalha mais de 225 horas por mês:
No dia 6 de abril, foi divulgado no Japão um estudo que apontou que metade dos artistas da indústria do animê trabalha cerca de 225 horas ao mês. Isso é muito acima das 163,5 horas mensais estabelecidas pelo Ministério da Saúde do Governo Japonês. A pesquisa junto aos profissionais foi conduzida pela associação NAFCA (Nippon Anime and Film Culture Association), uma organização fundada em abril de 2023 a fim de promover melhorias nas condições de trabalho da indústria do animê, visando sua própria sobrevivência.
A pesquisa também avaliou condições de trabalho, situações de assédio moral e rendimentos. Tornadas públicas, essas informações devem ajudar a discussão sobre condições de trabalhona indústria do animê, algo que tem sido alvo de muitas denúncias e críticas. Confira a reportagem completa, em inglês, no portal Kyodo News.
[ 5 ] Vocalista da WagakkiBand grava música de Hatsune Miku:
A cantora e compositora Yuko Suzuhana, da WagakkiBand, tem uma carreira solo e também um canal pessoal, onde eventualmente posta covers de algumas de suas canções favoritas. Um de seus vídeos mais recentes traz a música "Matryoshka", lançada originalmente com a voz digital da vocaloid Hatsune Miku, em 2010.
Yuko tem uma das melhores vozes da música japonesa atual, com muita técnica e qualidade de interpretação. O vídeo tem as ilustrações de Kagehito Mujiorushi.
"Matryoshka"
Letra e melodia: Hachi-sama
Intérprete: Yuko Suzuhana
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