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Drácula - A Sombra da Noite

A edição definitiva de um clássico do mangá brasileiro!

Capa da HQ Drácula A Sombra da Noite.
Capa com ilustração de Arthur Garcia.

Na década de 1980, um gibi brasileiro chegou às bancas com uma inovadora versão de um dos mais famosos personagens da literatura, o Conde Drácula. Presente no imaginário popular durante muitas gerações, Drácula, surgiu em 1897 como um romance do escritor irlandês Bram Stocker. Já foi adaptado inúmeras vezes em todo tipo de mídia, tendo consolidada a figura do nobre morto-vivo que suga sangue para se alimentar.


Os quadrinhos brasileiros, com uma longa tradição de histórias de terror, já produziram grandes clássicos com Drácula e vampiros, com obras marcantes de Julio Shimamoto e Ignácio Justo, entre outros, desde a década de 1950.

arte de Neide Harue para o Drácula
Um vampiro capaz de se sacrificar por amor.

Porém, em 1985, surgiu nas bancas uma das mais interessantes versões em quadrinhos do personagem: Drácula - A Sombra da Noite, uma elegante HQ escrita por Ataíde Braz e desenhada em estilo mangá por Neide Harue. Naquela época, nenhum mangá original era publicado no Brasil, e após os trabalhos experimentais com o estilo publicados pela editora EDREL na década de 60, o estilo de "desenho japonês" seguia sendo visto somente na TV, através de séries de animê. Depois das primeiras experiências, somente em 1982 surgiu outro gibi nacional com inspiração japonesa: era o Robô Gigante, da editora Grafipar. Mas enquanto o Robô teve apenas uma edição, Drácula conseguiu ter mais edições publicadas, de maneira heroica, pela editora Nova Sampa.


A trama acompanha a saga de Vlad, o lendário vampiro aristocrata, em sua mudança da Romênia para a Inglaterra, a fim de tentar uma nova vida. Ele busca um lugar na sociedade, e seu grande anseio é conseguir uma companhia feminina para lhe aplacar a solidão. Torna-se obcecado com Lucy, a quem imagina ser a reencarnação de sua falecida amada Catherine, mas essa ilusão dura pouco. As qualidades de ousadia e eloquência que admirava em Catherine ele vislumbra na jovem Mina Harker.

Capa da edição de 1985
Capa da segunda edição. (1985)

O Drácula concebido por Ataíde Braz se distancia bastante de suas origens, tendo uma relação diferente com a religião, pois jamais fez um pacto diabólico, tendo sido uma vítima de uma maldição anterior. Ainda assim, símbolos religiosos utilizados por pessoas de coração puro irradiam uma luz que ele teme. Objetos e símbolos religiosos simplesmente instrumentalizados como armas contra ele são inúteis.


Em seu confronto com o Padre Roselini, que em um momento de desespero se oferece como servo do vampiro, Drácula se enfurece. Ao ver um sacerdote pronto para renegar Deus a fim de sobreviver, Drácula se diz enojado e ressalta que odeia traidores, deixando Roselini se remoendo de culpa.


No aspecto psicológico, Drácula aparenta ser puro pathos, extremamente sentimental no que tange à fúria e aos desejos primitivos. Porém, seu ethos se mostra presente nos momentos em que poupa a vida de inocentes e busca racionalizar suas ações, ainda que muitas vezes sejam maquiavélicas. Ao se envolver com Mina, ele se vê tendo que lutar contra seus inimigos, incluindo o maior deles, Van Helsing, mas precisando se conter para evitar mortes.

Página da HQ
Drácula, sem ação contra Mina.

Em alguns aspectos, o Drácula de Ataíde Braz e Neide Harue é um herói romântico, mas também uma figura trágica. O mal que ele representa não é relativizado, mas colocado na perspectiva de que ele foi amaldiçoado, e tem momentos de humanidade. É um personagem perturbado, vingativo, carente de afeto, mas também que luta contra seu egoísmo e possui um senso de honra e dever. Com várias camadas, não é uma história simples, sendo uma obra adulta. Sexo e violência fazem parte da trama, mas nada soa gratuito, e o desenvolvimento das situações mostra as mudanças que se refletem nos personagens.


O texto de Ataíde Braz é bem elaborado, quase erudito, e dá um peso literário à obra, sem perder a fluidez que se espera de uma boa história em quadrinhos. Já a arte de Neide Harue foi o grande destaque em Drácula. Com uma estilização simples e muito expressiva, traz a escola narrativa do mangá, sendo perceptível também a evolução no traço da autora ao longo da produção.

Duas páginas da HQ
Drácula e Mina: romance trágico.

Para esta compilação, o material teve que ser escaneado a partir das revistas da época, que tinham uma impressão mais rústica, pois os originais se perderam há muito tempo. Algumas páginas necessitariam de uma limpeza e restauração, mas a leitura não foi comprometida. Da página 129 em diante, as páginas se tornam mais limpas, tanto pela melhor qualidade dos impressos disponíveis, quanto pela evolução do trabalho de acabamento de Neide Harue. Sua arte-final utilizava bico-de-pena e pincel para aplicar a tinta nanquim, materiais tradicionais que são quase desconhecidos pelos autores atuais, que já começaram a traçar em ambiente digital.


Drácula - A Sombra da Noite teve cinco edições, lançadas entre 1985 e 1987, tendo a obra sido compilada em 1991 pela Nova Sampa e também para o mercado franco-belga em 1990. Na época da publicação original, houve também a história derivada O Retorno de Drácula - Um Vampiro no Ragtime, lançada em 1985 pela Nova Sampa e republicada em 2017 pela Editora Criativo. A mais recente compilação da minissérie original pela COOP Editora, em formato grande e com uma capa exclusiva, traz também um conto inédito explorando a origem da manipuladora vampira Maria, personagem relevante para o enredo.


Com esse merecido resgate histórico, colecionadores e apreciadores de uma boa HQ podem ter em sua estante uma obra de grande valor histórico para o quadrinho nacional, mas não apenas isso. Romântica, dramática, reflexiva e envolvente, Drácula - A Sombra da Noite é uma grande obra, que merece ser redescoberta a cada nova geração.

DRÁCULA - A SOMBRA DA NOITE

Roteiro: Ataíde Braz Desenhos: Neide Harue

Capa: Arthur Garcia Prefácio: Franco de Rosa Introdução: Shirlei Cristina Massapust Produção editorial: Cleber Marques


Formato: 21 x 27,6 cm, com 322 páginas

Lançamento: COOP Editora ~ WarpZone (2024)

- Classificação indicativa: Para adultos


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