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Kamen Rider - O mangá original

A versão em mangá de um dos mais importantes super-heróis japoneses. Ação, drama, conspirações e política em um clássico de Shotaro Ishinomori.

Capa do volume um de Kamen Rider

Operando nas sombras, a maligna organização Shocker transforma seres humanos em ciborgues, com implantes mecânicos e modificações genéticas. Suas criaturas são desenvolvidas para cumprir missões cujo objetivo final é controlar a humanidade usando a ciência.


Como crença, o grupo almeja implantar uma tecnocracia mundial, ou seja, um governo puramente técnico, cientificista e automatizado para reorganizar a sociedade de forma revolucionária. Para atingir esse objetivo, a Shocker não mede esforços em exterminar, transformar ou controlar pessoas. Alheio a tudo isso, o jovem estudante de Biologia chamado Takeshi Hongo é escolhido para ser transformado à força em um guerreiro Shocker.


Por seu intelecto superior e grandes habilidades físicas, ele é preparado para ser um novo tipo de assassino. Porém, o cientista Dr. Midorikawa, que fora forçado a participar da operação em Hongo, se rebela e ajuda o jovem a escapar antes que sua memória fosse apagada.

Capa do volume um em japonês de Kamen Rider
Volume um da compilação original.

Perseguido por criaturas sanguinárias, ele aprende a usar seu corpo modificado e se torna Kamen Rider, um autoproclamado mensageiro da "Mãe Natureza" contra a ciência de Shocker. Em sua luta, conta com a ajuda do mordomo de sua família, o valoroso Toubee Tachibana.


Entre as grandes ameaças que encontra, é confrontado por Hayato Ichimonji, submetido à mesma operação e capaz de se transformar também em Kamen Rider. Inicialmente um inimigo, Ichimonji segue os passos de Hongo, mas as coisas vão tomando rumos trágicos, com Shocker revelando ser um poder grande demais para ser vencido apenas em batalhas.


Produzido em paralelo à sua versão live-action para TV, o Kamen Rider foi um projeto conjunto entre a Toei Company e a Ishimori Productions, estúdio do Rei do Mangá, Shotaro Ishinomori (que assinava "Ishimori" naquela época). O mangá foi publicado em 1971, tendo estreado na revista Bokura Magazine, migrando depois para a Shonen Magazine, revista que acabou incorporando a Bokura. No total, foram seis edições compilando toda a obra, mas ao longo do tempo haveriam republicações mais robustas e com menos volumes.


POLÍTICA, SOCIEDADE E O VALOR SUPREMO


Um dos temas de fundo do mangá é a questão ambiental, abordada com bastante seriedade. A história se passa em 1971, ou seja, 26 anos após o final da Segunda Guerra Mundial e o bombardeio atômico que o Japão sofreu. A obra aborda os efeitos nefastos da radiação que ficou nos locais e no sangue dos sobreviventes por anos, o que adoeceu pessoas que sequer eram nascidas na época da guerra.


Aparece também a questão de protestos contra a irresponsabilidade de fábricas que envenenavam águas, solo e ar com seus dejetos. A questão remete a protestos que movimentaram a sociedade japonesa entre o final dos anos 60 e começo dos 70, após a denúncia de casos graves de envenenamento por poluentes. Houve algumas manifestações intensas na época, com mafiosos sendo contratados por algumas indústrias para tumultuar reuniões de negociação com associações de moradores e até agredir pessoas comuns, com confrontos e reações violentas.


A indignação contra a poluição descontrolada e tudo o que foi descoberto naquele tempo se espalhou pela mídia, influenciando obras de entretenimento lançadas na mesma época, como a série Spectreman e o filme Godzilla vs Hedora, entre outras. Como resultado, o Japão passou a ter uma rigorosa regulação sobre poluentes.

Capas dos volumes 2 e 3 de Kamen Rider

Tudo isso já dá uma boa amostra de que Kamen Rider, ao menos no mangá, foi uma obra bastante politizada. Indo além do que foi explicado até aqui, a série tem uma revelação final que deixa estarrecido o leitor, com uma crítica aberta ao governo japonês daquele tempo. Vale lembrar que no mangá, a Shocker é diferente de sua versão para TV (uma alegoria neonazista), apesar de também estar infiltrada na sociedade, criar monstros e planejar a dominação mundial.


O Japão tem um longo histórico de presença do crime organizado na sociedade e em setores do governo e isso deu um pano de fundo mais realista ao leitor japonês. O livro investigativo Yakuza, dos americanos David E. Kaplan e Alec Dubro (Ed. Record, 1986), dá uma boa visão sobre esse assunto tão controverso.


O mangá de Ishinomori também apresenta uma visão aterradora sobre uma sociedade secreta querendo controlar pessoas artificialmente a pretexto de criar uma sociedade organizada e pacífica baseada na Ciência. Para o herói Takeshi Hongo, a liberdade da humanidade é um valor absoluto e inegociável, e por isso ele usa o poder que mutilou seu corpo para combater as ambições totalitárias da ciência desprovida de ética e respeito pela vida que a Shocker representa. Seja qual for a visão de mundo do leitor, é impossível não associar esse clássico mangá a situações do mundo contemporâneo.


BASTIDORES E A RELAÇÃO ENTRE AS VERSÕES TOKUSATSU E MANGÁ


O Kamen Rider foi, desde o princípio, um projeto para TV do produtor Toru Hirayama (1929~2013), que estava interessado em criar um novo super-herói que fosse um motoqueiro que lutasse contra monstros de tamanho humano. A ideia era produzir um herói inovador e que fugisse do padrão, ainda vigente na época, de se fazer séries inspiradas em Ultraman.


Quando convidou o autor de mangá Shotaro Ishinomori (1938~1998) para participar, o projeto foi ganhando forma, tendo vários visuais e enredos, até que se chegasse a uma forma final. Assim, Shotaro Ishinomori traçou as linhas gerais da história e se concentrou no mangá, enquanto Hirayama coordenou uma equipe na Toei Company para desenvolver a série de TV.


Um acidente, logo nos primeiros episódios da série, afastou o ator principal Hiroshi Fujioka, criando um enorme problema para o estúdio. A solução foi convocar o ator Takeshi Sasaki para substituí-lo como protagonista, e estabeleceu-se o surgimento de um novo Kamen Rider na trama. Depois que o ator se recuperou, o personagem voltou e eventualmente os dois Riders uniriam forças contra Shocker. A mudança acabou sendo incorporada também ao mangá.

Kamen Rider 1 e 2, versão live-action
Os Riders originais: Hayato Ichimonji (esq) e Takeshi Hongo

Para diferenciar os dois Riders perante o público da TV, eles passariam a ter um visual levemente diferente, com o original com duas listas brancas nas laterais do uniforme, e uma lista nas laterais para seu sucessor. O primeiro também teria luvas e botas cinza claro, e o segundo, luvas e botas vermelhas. Finalmente, eles seriam conhecidos como Kamen Rider Ichi-gou ("Número Um") e Kamen Rider Ni-Gou ("Número 2"). [Nota: É importante atentar para a pronúncia da denominação do primeiro Kamen Rider. O complemento do nome deve ser lido como "iti-gôu" ou "iti-gô".]


Foram 98 episódios, uma das mais longas marcas para séries tokusatsu, além de incontáveis participações posteriores em diversas séries e filmes.


Dinâmica e sem as complexidades do mangá, a série de TV foi um enorme sucesso de público e impulsionou um fenômeno cultural chamado "Henshin Boom", que foi a explosão de heróis com pose de transformação e que lutavam em tamanho humano. A série gerou uma franquia gigantesca que está atualmente em expansão no ocidente. Já o clássico seriado da Toei irá ganhar um remake cinematográfico em 2023 intitulado Shin Kamen Rider, pelas mãos do cineasta Hideaki Anno.


De modo intenso, Kamen Rider é uma história com drama, terror, ação e um forte fundo político. Vale apontar que, na TV, a Shocker é associada ao Nazismo, mas sua vilania é um tanto mais caricata, sem o aspecto mais realista visto no mangá.


Com tudo isso e uma narrativa tensa, valorizada pelo traço cartunesco e expressivo de Shotaro Ishinomori, esse mangá é um grande clássico. A história termina dando margem a continuações, mas o autor nunca mais faria um mangá do personagem. Ele somente voltaria à franquia em 1987, com o Kamen Rider Black.


Como mangá, o Kamen Rider é certamente menos lembrado do que como série tokusatsu, mas lá estão elementos marcantes, não apenas de uma grande franquia, mas da obra de um dos mais importantes autores de mangá de todos os tempos. Criativo, intelectual e versátil, Shotaro Ishinomori é aclamado, com justiça, como o Rei do Mangá.



FICHA TÉCNICA:

Título: Kamen Rider ~ 仮面ライダー

Roteiro e arte: Shotaro Ishinomori

Formato: 14,8 x 21 cm (entre 272 e 280 páginas)

Total: Três volumes Tradução: Tiago Nojiri

Lançamento no Brasil: NewPOP Editora (2021)

Classificação indicativa: 18 anos


SAIBA MAIS:

Abaixo, recomendo matérias excelentes no blog Casa do Boneco Mecânico, com muita informação sobre os personagens e bastidores das obras.



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