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Kamen Rider Black - O mangá

A versão autoral de um dos maiores super-heróis dos anos 80. [Contém spoiler.]

Kamen Rider Black no traço do criador Shotaro Ishinomori.

Um dos super-heróis japoneses mais queridos do público brasileiro é o Black Kamen Rider, ou melhor, Kamen Rider BLACK, cuja série de 1987 foi sucesso na TV Manchete no início dos anos 1990.


Com uma trama sombria, visual arrojado e trilha sonora empolgante, a saga de Issamu Minami conquistou muitos fãs também em seu país de origem e o personagem ganhou novos poderes na série Kamen Rider BLACK RX, de 1988. Em 2022, para comemorar os 35 anos de estreia, ganhou um controverso reboot chamado Kamen Rider BLACK SUN.

Paralelo à série de TV original, foi publicado no Japão um mangá autoral do criador da franquia, o genial Shotaro Ishinomori (1928~1998). Da mesma forma como fez com várias criações que foram desenvolvidas simultaneamente para mangá e live-action, Ishinomori estabeleceu algumas linhas básicas do enredo e partiu para a produção de sua versão. Do outro lado, o produtor Susumu Yoshikawa, da Toei Company, organizou uma equipe desenvolver o seriado de BLACK.


A série de TV começou com roteiros de Shozo Uehara, que modificou bastante os elementos originais e situações, mas manteve o tom sombrio. O escritor acabou se desentendendo com os produtores e saiu da série, que seguiu um tanto irregular, mas com bom sucesso e repercussão. Até hoje, é um dos heróis mais queridos da franquia Kamen Rider. No entanto, para quem espera sentir alguma nostalgia da série clássica, a obra pode causar estranheza, visto que as semelhanças são bem poucas.

Capa da edição de estreia na Shonen Sunday.

A visão pessoal e autoral de Ishinomori sobre Black rendeu um mangá publicado entre 1987 e 88 na popular revista semanal Shonen Sunday. Em 2022, a saga foi finalmente lançada no Brasil pela Editora NewPOP.


A trama tem início com um desmemoriado Kotaro Minami sendo perseguido nos esgotos de Nova Iorque por uma criatura monstruosa da seita Gorgom. Ele encontra uma equipe de TV que estava investigando relatos de criaturas misteriosas vistas no esgoto da cidade. Assumindo uma forma monstruosa de homem-gafanhoto, Kotaro salva os repórteres Sam e Kate, que lhe oferecem um emprego de cinegrafista. Eles partem pelo mundo para investigar a misteriosa seita que transforma homens em ciborgues monstruosos. Kotaro precisa descobrir o que aconteceu com seu irmão de criação, Nobuhiko Akizuki, que ficou na base Gorgom enquanto ele conseguiu fugir. Nobuhiko está condenado a se transformar em outro homem-gafanhoto, mas a serviço dos Gorgom. Tendo nascido em uma noite de lua cheia, no mesmo dia e hora, Kotaro e Nobuhiko foram escolhidos pelos Gorgom para se tornarem os candidatos ao posto de governante supremo da seita, para destruir a maior parte da humanidade.


Os Gorgom acreditam que a extinção é a força motriz da evolução das espécies e pretendem forçar a evolução humana com sua engenharia genética. Eles também querem concretizar o extermínio da humanidade considerada "obsoleta" para que seus seres mutantes sejam a raça dominante. É contra isso que Kotaro se levanta e resolve usar todo seu poder. Seu objetivo é destruir os Gorgom e salvar Nobuhiko. Kotaro também precisa proteger Kyoko, sua irmã de criação e irmã legítima de Nobuhiko. Os sentimentos de Kyoko por Kotaro, que são apenas insinuados na série de TV, são declarados na versão mangá, o que ajuda a fazer dela uma personagem ainda mais sofrida.


Kotaro luta para salvar a humanidade e seus entes queridos, mas caminho, porém, será pavimentado pela tragédia e violência, com um desfecho imprevisível.

As capas das edições brasileiras.

A tradução da Editora NewPOP fez a opção de seguir os nomes originais, ao invés de manter os nomes adaptados da série de TV. O protagonista, sempre chamado no Brasil de Issamu Minami, é pela primeira vez chamado no Brasil por seu nome original, Kotaro Minami. A namorada de Nobuhiko, que foi chamada de Satie na dublagem da TV Manchete, é chamada no mangá de Ayumi Kita. Na série de TV, porém, o nome dela era Katsumi Kida.


A forma monstruosa de Black é vista de relance no primeiro episódio da série de TV de 1987, sendo uma forma intermediária que desaparece rapidamente quando ele consegue concluir a metamorfose. Essa forma monstruosa se mantém no mangá até o fim. No reboot BLACK SUN, a forma monstruosa do herói aparece e luta bastante, mas essa referência visual foi uma das poucas ligações com o mangá que a adaptação de 2022 teve.


A saga se desenrola de maneira dinâmica, com muita ação, violência explícita e um clima de terror que é valorizado pelo traço estilizado e expressivo de Ishinomori. Em termos de poderes, a versão mangá tem um grande diferencial, que é utilizar sua poderosa aura como uma arma, semelhante a um ataque psíquico. Com ela, Minami também consegue hipnotizar pessoas e animais.


Com o tempo, Kotaro descobre que ele e Nobuhiko tiveram implantadas dentro de si duas Pedras Filosofais. O destino deles é lutarem entre si, e o vencedor pode se apoderar da pedra do derrotado, atingindo assim o grau máximo de poder e se tornando o Rei Demônio que vai acelerar a destruição da humanidade e sua substituição por uma raça mais poderosa. Black se vê viajando pelo tempo, tentando desesperadamente reverter o que parece ser um destino terrível e inescapável.

Kotaro é atacado por um dos monstros de Gorgom.

Originalmente, a saga foi compilada em seis volumes, mas a editora brasileira optou por condensar em três volumes, mais robustos. Há várias similaridades com o Kamen Rider original, que nesse mundo é um personagem famoso, inspirando Kotaro e se autodenominar Kamen Rider Black.


Além da versão de Ishinomori, foram publicadas outras versões em mangá em mais cinco revistas, por autores diferentes. Eram publicações como a Coro Coro Comic, Terebi Kun e Terebi Land, sendo todas elas com adaptações de episódios da série de TV e voltadas a um público mais infantil. Vale destacar que Ishinomori produziu apenas dois mangás autorais em toda a extensa franquia Kamen Rider, que surgiu e se desenvolveu nos primeiros anos muito mais por mérito do produtor Toru Hirayama (1929~2013).


O Rider original e o Black trazem histórias diferentes entre si, apesar de manterem elementos em comum, como a sociedade secreta que planeja controlar o destino da humanidade e o herói mutante que foi criado para ser uma arma viva contra a humanidade, mas que se levanta contra os planos totalitários de dominação global.


Conforme os fãs já sabem, a série de TV de BLACK possui um final triste. O herói vence os Gorgom, mas falha em salvar Nobuhiko, que morre como Shadow Moon. E ele fica sem saber o que aconteceu com Kyoko e Satie, que fugiram para os EUA achando que ele morreu. Elas, por sua vez, continuariam a acreditar que Kotaro (ou melhor, Issamu) Minami morreu na frente delas, pois a recuperação e revanche do herói aconteceram sem testemunhas. Um final altamente insatisfatório, ainda mais se levarmos em conta que, na continuação BLACK RX, as duas foram totalmente esquecidas. No mangá de Ishinomori, no entanto, o final delas é muito mais trágico.


Kamen Rider Black tem um final bem mais sombrio do que a versão da TV, e muito mais insatisfatório para quem não gosta de finais em aberto. Apesar de serem obras totalmente diferentes, tanto o mangá de Black quanto o romance inglês 1984 de George Orwell, possuem algo em comum. São histórias que apresentam mundos distópicos, heróis trágicos, uma perturbadora conexão com a realidade e lampejos de esperança que sempre são esmagados, com um desfecho que deixa um sentimento amargo de que o mal vence no final.


Considerando seu desenrolar, Black é um bom exemplo dos heróis trágicos de Ishinomori, que mutas vezes foram atenuados para suas versões televisivas. São, no entanto, heróis idealistas, movidos por sentimentos nobres em um mundo apodrecido; lutando com bravura contra ameaças aterrorizantes, em um mundo cinza onde finais felizes são impossíveis.

Título: Kamen Rider Black ~ 仮面ライダーブラック

Roteiro e arte: SHOTARO ISHInoMORI Tradução: Thiago Nojiri

Formato: 15 x 21 cm

Total: 3 volumes (com 400, 376 e 336 páginas, respectivamente) Lançamento no Brasil: Editora NewPOP (2022) Classificação indicativa: 18 anos


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Séries de tokusatsu de BLACK:

Ilustração de Ishinomori representando o BLACK da TV, a partir do design de Katsushi Murakami.

 

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