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National Kid

O primeiro super-herói japonês exibido na TV brasileira.

Por Marcus Anversa [*]


National Kid, o primeiro super-herói de tokusatsu visto na TV brasileira.

A televisão brasileira tem mais de 70 anos. Em seus primórdios, um herói japonês aportou antes de Perdidos no Espaço e Jornada nas Estrelas, deixando sua marca na geração nascida no final dos anos 1950: National Kid.

Este clássico "tokusatsu" ou live-action foi produzido pela Toei Company, com o visual do herói criado a partir do mangá do desenhista Daiji Kazumine (1936~2020). Como Perdidos no Espaço e Viagem ao Fundo do Mar, National Kid fez sucesso graças à inventividade de uma narrativa em que a aventura e o suspense eletrizavam, apresentado uma forma não comum ao público brasileiro fora do circuito de cinemas da colônia japonesa no bairro paulistano da Liberdade. Nele existiam atuações e coreografia de lutas bem próprias.

"Kid" enfrentava não apenas inimigos mais surrealistas que a telinha apresentara até então, mas também, os mais pérfidos de todos. Os Incas Venusianos, por exemplo, não hesitavam sequer em contaminar a água e a comida que a população terráquea iria consumir.


National Kid, ao desembarcar em terras brasileiras, recebeu todas as honrarias devidas como o primeiro tokusatsu na nossa televisão e a novidade que esse estilo de série propiciava, com características tão nipônicas.


De repente, os pais começaram a ouvir dos filhos uma estranha canção, "Nationaro Kido, Kido, Nationaro Kiido...". Nas calçadas, os adultos viam as crianças correndo com os braços abertos gritando: "Nacionaaal Kid", entre eles, um finado amigo meu de infância chamado Felipe Zulmar Batista Maltese, lá em Porto Alegre. As imagens dos incas venusianos com o seu design marcante, o carro voando sobre o penhasco na história dos seres abissais e os próprios seres das profundezas do oceano com seu aspecto fantasmagórico ficaram eternamente fazendo parte de minha memória. Mais tarde, numa época em que National Kid não era exibido há muito tempo, um colega do Colégio Militar (CMRJ) de traços orientais, ganhou o apelido eternizado de "Nacional Kid".


Em 1978, na cidade do Rio de Janeiro, de ônibus para o Colégio Militar, percebi, no muro da ferrovia, na altura de Bento Ribeiro, uma enigmática frase, “Celacanto Provoca Maremoto”. Esse estranho grafite estava espalhado por toda cidade e começou em 1977, nos muros de Ipanema. Intrigou até as autoridades.


Vamos então elucidar. O jornalista carioca Carlos Alberto Teixeira teve a inspiração do grafite na fala do Dr. Sanada, um dos vilões dos Seres Abissais, que é: “Celacanto Provoca Maremoto”. Na verdade, era um submarino em forma do peixe celacanto chamado Guilton. Essa fala ficou na cabeça do jornalista quando, em 1977, criou o grafismo “CELACANTO PROVOCA MAREMOTO”, circundado por uma moldura com uma seta que caía em uma gota com dois tracinhos ao lado, mostrando que ela estava “tremendo”.

Este grafite é um marco na história deste tipo de arte urbana no Brasil e estudado em principais centros acadêmicos do país.

A arte de Daiji Kazumine.

GÊNESE DO HERÓI


Nagayoshi Akasaka (1921~1994), roteirista e diretor da série, disse que o personagem era mesmo cópia do Superman. Ele também era invencível, defensor da paz e da justiça.


Existem dois grandes inimigos do ser humano. As coisas que vêm de fora e as que saem de dentro. Assim, criamos dois tipos de vilões: Os invasores vindos do espaço e os seres saídos das profundezas do oceano ou da Terra”, explica Nagayoshi, surpreso ao saber através de um jornalista do Jornal do Brasil, da repercussão que a série teve por aqui, já que não fez nenhum esforço para criar uma obra-prima.


UM HERÓI QUE AINDA CATIVA


Visto hoje, National Kid continua divertindo. O impacto da série nipônica no imaginário popular brasileiro foi tal que seu traje foi usado no filme Dois na Lona, de 1967, com Renato Aragão e Ted Boy Marino. Foi o primeiro tokusatsu a ser exibido na televisão brasileira, conquistando muitos fãs e um status de cult por ser diferente de tudo o que se havia no gênero de super-herói no Brasil. Outro fato foi do professor Ryusako Hata receber nestas plagas o nome de Massao, já que o nome original poderia ter conotação pouco heroica.


Percebe-se ao assistir a série, a insistência com que a câmara focaliza toda a sorte de utensílios eletroeletrônicos da marca National (pertencente à atual Panasonic). Não se trata de acaso. A série produzida sob o patrocínio desta empresa era puro merchandising.



Este tokusatsu da produtora Toei foi exibido no Japão de 04/08/1960 a 27/04/1961 pela TV NET (atual TV Asahi), canal 10, de Tóquio, às quintas-feiras no horário das 18h15. No Brasil, estreou no dia 5 de março de 1964, 19 horas, pela TV Record, São Paulo.


Os anos passaram após a exibição pela TV Globo em 1972, e a saudade do velho pioneiro herói nipônico estava batendo forte, tanto que foi lembrado na revista cômica Planeta Diário dos anos 1980. Fatos como esse motivaram a Sato Company, em 1993, a divulgar de forma marcante no programa de televisão apresentado por Paulo Henrique (PH), o Top TV (Rede Record), e a disponibilizar em fitas VHS os episódios do National Kid enfrentando os Incas Venusianos, os Seres Abissais e os Homens Subterrâneos. Porém, deixou de fora os arcos O Mistério do Garoto Espacial e Os Zarrocos do Espaço, em que são reveladas a origem e a identidade secreta do herói.


A nova dublagem foi realizada por Emerson Camargo (1944~2017), a voz original de National Kid, em seu próprio estúdio, a Windstar. Porém o nome do estúdio não foi mencionado na redublagem, mas o nome do próprio Emerson Camargo. Isso foi feito para atender ao pedido da Sato Company visando a obter maior impacto mercadológico com o realce da presença do dono da voz do Kid da dublagem original feita na Arte Industrial Cinematográfica - São Paulo (AIC-SP). Essa versão foi brevemente exibida na extinta TV Manchete em 1996.

Em dezembro de 2009, a série foi relançada, dessa vez pela Focus Filmes, embalada pelo sucesso de vendas de Jaspion (1985), Changeman (1985) e Jiraiya (1988) em DVD. Esse material contava com a redublagem dos anos 1990 e o mesmo formato de edição contínua. O segundo box, lançado em 2010, trazia episódios faltantes com a dublagem da Clone. Substituindo Emerson Camargo, entrou Afonso Amajones para dublar o herói. National Kid depois seria apresentado no extinto canal de streaming Wow! Play entre 2016 e 2017. A série estava sendo apresentada no canal Tokusatsu TV (via YouTube), desde sua inauguração em fevereiro de 2017. Entretanto em 2021, o canal, que mudou o nome para Tokusato, parou de exibir o Kid. A série também foi exibida no Amazon Prime Vídeo.


Em 1997, em Porto Alegre, ocorreu uma agradável surpresa: foram encontrados em um sótão cópias de quase todos os episódios de National Kid com a dublagem original AIC-SP que foram exibidas pela TV Piratini e TV Gaúcha.


NOTAS SOBRE O ELENCO


Ichiro Kojima: Ichiro Kojima nasceu em 1935. Formou-se na Universidade Rikkyo, famosa universidade particular em Tóquio e foi membro do grupo de pesquisa teatral da universidade. Junto com Tatsuo Umemiya, Machiko Yashiro, Yoshi Oran, Shintaro Takashima e Jun Takigawa, ele formou a 5ª geração do Toei New Faces (1958). Com o lançamento de National Kid, o jovem Kojima foi escolhido para o papel principal. A partir da saga dos seres subterrâneos foi substituído por Tatsumi Hidetarou, pois a equipe de produção concluiu que o ator não tinha dotes físicos para encarnar o herói. Ichiro Kojima teve o seu último trabalho de expressão em Suna no ana: Jôji no karakuri (1966).


Tatsumi Hidetarou: Substituto de Ichiro Kojima no papel do Professor Massao Hata e National Kid. Na série chegou a interpretar um apresentador de noticiário de TV na saga dos Seres Abissais. Depois de National Kid trabalhou em várias produções japonesas como Equipe de Investigação SWAT (1961-1977) e The Great White Tower (1967).

    

Kiwako Taichi: Na série com 16 anos de idade, é creditada com o nome Taeko Shimura ao interpretar a jovem Tyako. Nascida em 02/12/1943, em Taiji, tornou-se após a produção de National Kid, uma notável atriz, sendo premiada como Melhor Atriz Coadjuvante nos festivais Hochi Film e Kinema Junpo Award por seu trabalho em Otoko wa tsurai yo: Torajiro yuuyake koyake (1976), uma comédia do diretor Yoji Yamada. Com uma carreira conceituada e ainda em ascensão, a talentosa atriz morreu aos 48 anos quando o carro que a conduzia despencou no mar no dia 13/10/1992.


National Kid, em foto colorizada. À direita, capa de um livro de ilustrações da época.

QUAIS AS CORES OFICIAIS DO NATIONAL KID? Segundo o diretor Atsushi Koike, sua cabeça é dourada, seu torso é azul, a marca “N” é vermelha e sua capa, luvas e botas são prateadas. Muitas ilustrações, mesmo na época da série, traziam colorização equivocada, conforme atesta a imagem da direita no quadro acima.


Dedicatória:         

Quero render a minha homenagem a todos os admiradores de National Kid, em especial, a Musashi Sakai, Roberto Sesóstris, Haydée Oliveira, Humberto Cardoso, Fernando Ramos, Silvio de Oliveira, Zelândia Souza, Maurício Viel, Douglas Meneses e ao Alexandre Nagado, que para a alegria de muitos, tem a preocupação na divulgação da arte tokusatsu e de perpetuar a memória do lendário herói japonês National Kid, que tanto traz saudosas recordações.


[*] Marcus Anversa é autor do livro National Kid - O Marcante Herói de Uma Geração.




::: FICHA TÉCNICA :::


NATIONAL KID / NACIONAL KID

Título original: National Kid ~ ナショナルキッド

Estreia no Japão: 04/08/1960 (NET TV, atual TV Asahi) Total: 39 episódios

Emissoras no Brasil: TV Record, TV Globo (principais)


EQUIPE DE PRODUÇÃO

Planejamento: Masamichi Sato, Kazuma Nosaka, Yoshi Nakai

Trabalho original: Minoru Kisegawa (Parte 1 a Parte 3), Juzo Unno (Parte 3), Ichiro Miyagawa (Parte 4)

Roteiro: Takashi Tanii (Partes 1 e 2), Nagayoshi Akasaka (Partes 3 e 4)

Trilha sonora: Yasuo Fukasawa

Direção de efeitos especiais: Jun Koike, Daiji Yamaguchi

Arte: Tohl Narita, Shio Fukino, Keiji Tsuchiya

Assistentes de direção: Yasutada Nagano, Daiji Yamaguchi

Direção: Nagayoshi (Chogi) Akasaka (Parte 1), Jun Koike (Parte 2 até Parte 4 - episódios 1 a 5), Shigeo Watanabe (Parte 4, eps 6 a 9)

Produção: Massamichi Sato e Kazuma Nesaka

Realização: Toei Company, NET TV


ELENCO:

Massao Hata (Ryusako Hata)/ National Kid: Ichiro Kojima (Parte 1 e 2)

Massao Hata (Ryusako Hata)/ National Kid: Hidetaro Tatsumi (Parte 3 e 4)

Naoko Obata/Tyako: Taeko Shimura

Aura (Comandante dos Incas Venusianos), Anna (Mulher Subterrânea): Yoshiko Nogawa Dr. Hideki Mizuno Nagano: Shika Saito

Yoshiko Nagano: Katsuko Akutsu Dr. Yamada: Isamu Yamaguchi

Tsuneko Yamada: Chieko Honma Inspetor Takakura: Koji Kawai

Taro Okori (Garoto Espacial): Kiyoshi Matsukawa


Grupo dos Detetive Mirins

Yukio Obata (Líder): Taku Fukushima, Koji Komori, Akira Asami

Tomohiro Takebe: Hideyo Kimura

Kurasu Otani: Toru Shimizu, Topei Yamamoto

Goro Otani: Kazuo Hara

Kyoko Yamaguchi: Midori Okada, Mamiko Saito


Versão brasileira: Arte Industrial Cinematográfica São Paulo (1ª dublagem), Emerson Camargo (Windstar) (2ª dublagem), Clone (3ª dublagem)


 

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