O que define e quais são os elementos essenciais das três grandes franquias de super-heróis do tokusatsu?
Conforme vimos na matéria sobre as origens do tokusatsu, existem três grandes e antigas franquias no mundo dos super-heróis japoneses: Ultraman (desde 1966), Kamen Rider (desde 1971) e Super Sentai (desde 1975). Todas surgiram a partir de ousados e criativos projetos, que foram ganhando forma e conteúdo ao longo de décadas de produção. A franquia Ultraman surgiu com Ultraman e Ultra Seven, duas séries supervisionadas pelo mestre dos efeitos especiais Eiji Tsuburaya (1901~1970). Editor de roteiros em Ultraman e supervisor geral em Ultra Seven, o mestre reteve os direitos autorais para sua empresa Tsuburaya Productions, mas reconhecidamente foi uma criação coletiva, com muitos criadores participando. Já Rider e Sentai surgiram a partir de ideias e conceitos trazidos pelo produtor Toru Hirayama (1929~2013), da Toei Company, que ganharam forma e conteúdo graças ao autor de mangás Shotaro Ishinomori (1938~1998). Com bases sólidas, diretores, roteiristas, produtores e designers foram acrescentando cada vez mais elementos a cada série, cada produção.
Ao longo dos anos, as obras foram evoluindo, algumas com hiatos, outras com sucessivas tentativas de reinvenção ou renovação. Se por um lado, as séries surgiram como entretenimento e se sustentavam pela audiência e patrocinadores na TV, a partir dos anos 80 o merchandising passou a ser preponderante para a sobrevivência das séries.
A Bandai, parceira da Toei no licenciamento de brinquedos, passou a ditar normas, e o design dos personagens e seus veículos passou para a empresa, que tinha o talentoso Katsushi Murakami e sua equipe.
Mas, indo além de visuais, efeitos, técnicas e estilos de filmagem, estruturas narrativas e personagens, é possível definir cada uma dessas linhagens de heróis, chegar em denominadores em comum para cada franquia? A resposta é sim.
Ultraman, basicamente, trata de conflitos humanos e de superação pessoal em meio a uma escala grandiosa de ameaças, como monstros gigantes e invasões alienígenas. As batalhas são resolvidas com a força de um semideus espacial, algo bem Deus ex machina. Porém, esse ser extremamente poderoso, que se convencionou definir como um Gigante de Luz, precisa viver entre os humanos, seja utilizando um hospedeiro, seja assumindo forma humana. Muitas vezes, os aliados humanos são essenciais para garantir a vitória, com um trabalho em equipe. É essa interação que serve de fio condutor para diferentes dramas e desafios.
Os conflitos e dilemas dessa convivência já renderam histórias e séries memoráveis, no qual os Ultras também aprendem muito em sua interação com os humanos, bem como são capazes de ver, com um olhar de alguém de fora, características ruins e imperfeitas da humanidade.
Kamen Rider, quase sempre, mostra um homem lutando contra seu destino. Para o produtor original, Toru Hirayama, seria um herói que deveria levar esperança às pessoas. No caso do Rider original, que estabeleceu a formula, um humano é transformado pela organização Shocker para se tornar um soldado de seu projeto de tirania global (com diferentes abordagens entre a TV e o mangá). Mas, ele consegue escapar de ter a mente apagada e se revolta contra seus criadores, usando seus poderes para lutar contra a dominação global. Essa essência aparece de modo bem claro em Kamen Rider BLACK, o primeiro herói da franquia lançado no Brasil.
Na maioria dos casos, o Kamen Rider não luta exatamente por justiça, mas para combater projetos totalitários, defender a liberdade humana e salvar as pessoas que lhe são importantes ou estão em perigo.
Finalmente, Super Sentai se baseia na ideia de trabalho de equipe em seu nível mais profundo, gerando um tipo de sinergia. Trata-se de um conceito de trabalho coordenado, onde o todo resultante é maior que a soma de cada elemento envolvido. Exemplificando de modo simples, imagine cada integrante de um quinteto tendo um poder de "nível 5". Ao atuarem de modo coordenado, o grupo atinge um nível 30, e não 25. E é assim que cada esquadrão dessa franquia extrai seu poder máximo em momentos de maior perigo, com a união dos integrantes, ainda que em vários momentos algum se destaque mais.
Em muitos casos, rivalidades internas precisam ser deixadas de lado para o sucesso na luta contra o mal. Mais do que qualquer obra ou franquia, Super Sentai mostra a força da união que supera os maiores desafios, com técnicas, poderes ou armas que devem ser feitas com a sincronia dos membros de cada grupo. Cada um desses conceitos traz ideias simples, mas poderosas, que ao longo dos anos têm formado o imaginário de milhões de fãs. Modismos, evoluções, desconstruções, novos paradigmas estéticos e influências filosóficas de autores variados têm levado as franquias Ultraman, Kamen Rider e Super Sentai a seguirem ao longo de décadas. Isso tem sido feito sempre em busca de renovação do público, enquanto os estúdios mantêm um pé na nostalgia e na fidelidade de fãs que levam o amor por seus personagens para toda a vida. Diferente de franquias da cultura pop americana, como Star Wars ou os super-heróis Marvel e DC, que embarcaram em panfletagens ideológicas e tentam desconstruir seu passado, os heróis japoneses mais tradicionais se renovam sem perder contato com sua essência. Enquanto produtores e autores conseguirem fazer isso, estarão não apenas mostrando que aprenderam com os clássicos, mas estarão respeitando os ideais de quem lançou as bases para os universos ficcionais com os quais trabalham.
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