O compositor de trilhas sonoras eletrizantes do tokusatsu e do animê!
Seja na TV ou no cinema, o nome de Michiaki Watanabe ( 渡辺 宙明 ) é sempre um indicativo de uma trilha sonora empolgante. Nascido no Japão em 19 de agosto de 1925, Michiaki, também conhecido como Chumei Watanabe (que é uma outra leitura possível dos ideogramas de seu nome) foi um compositor e arranjador dos mais importantes em seu país, tendo uma obra vasta e reconhecida internacionalmente.
Começou carreira em 1956, compondo a trilha para a trilogia cinematográfica Ningyô Sashichi Torimono Chou (Dandy Sashichi Detective Story), lançada no ano seguinte. Era um drama de época, com investigações sobre crimes na era dos samurais. Vários outros títulos para cinema vieram, bem como dramas para TV. Ele se consagrou como um compositor de obras para filmes ditos "sérios", com apelo ao público adulto, antes de se tornar a lenda da cultura pop através do animê e, principalmente, dos heróis de tokusatsu.
Seu primeiro contato com super-heróis foi logo em Super Giants, seriado cinematográfico inspirado no Superman e produzido pela Shintoho e exibido entre 1957 e 1959.
Em 1964, ele compôs as músicas da série Ninja Butai Gekkô, do estúdio Toei, que teve uma rápida passagem pelo Brasil no final daquela década como Agentes Fantasmas.
Em 1972, compôs a trilha sonora para Mazinger Z, o animê criado por Go Nagai que redefiniu os robôs gigantes japoneses e detonou uma febre em seu país. Cantada pelo astro Ichirou Mizuki (1948~2022), o "Imperador das Anisongs", o tema de abertura da série é até hoje considerado sua marca registrada.
Depois, Watanabe continuou na franquia com Great Mazinger (1974) e fez numerosos trabalhos para animês, como Konchuu Monogatari Minashigô Hatch (1974), lançado no Brasil como a Abelhinha Hutch. Trabalhou também nos títulos Magne Robo Ga Keen (1976), Arbegas (83), Lezarion (84), Hikaruon (87), Transformers V (89) e muitos outros.
E se com Mazinger Z ele conseguiu um lugar na história dos animês, é difícil mensurar ou classificar sua importância na área do tokusatsu. Depois da experiência com Agentes Fantasmas, visto mais como um seriado de ação do que um tokusatsu, fincaria o pé no gênero após trabalhar em Kikaider, criado por Shotaro Ishinomori (1938~1998) para a Toei Company em 1972
Quando foi convidado para Kikaider, ele quase recusou, por achar que não conseguiria compor para uma série infantil. Então, foi convencido pelo produtor Toru Hirayama (1929~2013) e fez seu trabalho, tendo em mente que não iria compor música infantil mesmo que o público alvo fosse dessa faixa etária. Tanto Ishinomori quanto Hirayama criavam obras tendo em vista o público infantil, mas sem tratá-los como incapazes, com mensagens fortes e heróis que seriam modelos de conduta por seu comportamento, não por discursos educativos. "É por isso que pessoas na faixa dos 40 e 50 anos ainda ouvem minhas canções e as cantam em karaokês. Eu fico realmente orgulhoso!", relatou Watanabe ao site local The Japan News, do influente Yomiuri Shimbun.
Vieram depois Kikaider 01 (1973), Inazuman (73), Inazuman F (74), Gorenger (75) Jacker (77), Spiderman (78), Battle Fever J (79) e várias outras produções de tokusatsu, sempre para a Toei Company. Seu estilo parecia fadado a embalar aventuras divertidas e combates empolgantes.
Em termos musicais, foi um dos pioneiros no uso ostensivo de sintetizadores durante os anos 70. Seus arranjos também valorizavam o uso de metais, especialmente trumpetes, seja os instrumentos propriamente ditos ou sua simulação eletrônica via teclados. Seu gosto e capacidade para compor melodias fortes permitiu que criasse dezenas de temas heroicos, músicas que se tornariam marcas de vários personagens
Na década de 1980, reinou absoluto na área do tokusatsu, tendo composto as músicas de fundo para Denziman (1980), Sun Vulcan (81), Goggle V (82), Gavan (82), Sharivan (83), Shaider (84), Jaspion (85) e Spielvan (86). Em Jiban (1989), a Toei reaproveitou alguns de seus temas criados para os Metal Heroes. Por isso, ele talvez seja o compositor japonês de trilhas sonoras com o trabalho mais conhecido em nosso país, mesmo que seu nome seja desconhecido para a maior parte do público.
Gavan foi uma série revolucionária em seu tempo, tendo à frente o produtor Susumu Yoshikawa (1935~2020) e uma equipe que incluía o roteirista Shozo Uehara (1937~2020), o designer Katsushi Murakami e o ator e dublê Kenji Ohba. É impossível falar sobre o sucesso e influência de Gavan sem destacar o trabalho de Watanabe. Além das músicas de fundo (ou BGM - "background music"), ele compôs as melodias dos temas de abertura e encerramento, entre outras canções da série.
Para Jaspion, o herói que marcou época no Brasil, Watanabe também criou tanto as BGMs quanto as melodias dos temas de abertura e encerramento cantados por Ai Takano, além de outras músicas icônicas, como o tema do robô gigante Daileon e a eletrizante "Ginga no Tarzan", ambas cantadas por Akira Kushida. Ele é o cantor que mais interpretou músicas de Chumei Watanabe ao longo dos anos, em uma parceria de grande sucesso entre os fãs de tokusatsu.
Em várias produções, mesmo sem ser o compositor principal, Watanabe contribuiu com algumas faixas em séries variadas como Kamen Rider BLACK (1987), BLACK RX (88) e B-Fighter (95).
Versátil, Watanabe também compôs trilhas sonoras para programas de TV, games e publicidade, mas será sempre lembrado como o cara das trilhas sonoras de alguns dos maiores super-heróis da cultura pop japonesa. E o talento não ficou restrito a ele na família, pois Michiaki é pai de Toshiyuki Watanabe, já um músico veterano e com brilho próprio. Na área de trilhas sonoras, o filho da lenda trabalhou na moderna trilogia de filmes tokusatsu da mariposa gigante Mothra (1996~98) e na série em animê Uchuu Kyodai (Space Brothers, 2012~14) e Shinkalion THE ANIMATION (2018), entre outros títulos. E ainda, a neta de Chumei Watanabe, Mako Watanabe, tornou-se idol e cantora, assinando como Mako Principal.
Em 2014, Chumei Watanabe trabalhou na composição musical do projeto Uchuu Keiji NEXT GENERATION, que consistiu em duas aventuras solo dos sucessores dos heróis Sharivan e Shaider.
Quando comemorou 90 anos, conduziu uma orquestra em um grande concerto sobre sua obra. Bem-humorado, declarou na ocaisão que esperava trabalhar até os 100 anos, seja compondo ou criando arranjos. Infelizmente, o grande mestre faleceu antes disso. Chumei Watanabe encerrou sua jornada neste mundo em 23 de junho de 2022, aos 96 anos. Seu legado é eterno.
::: E X T R A :::
Trecho do show comemorativo dos 90 anos de Chumei Watanabe, em 2015. Várias canções e trilhas famosas foram incluídas, e houve uma participação animada, tanto do público quando dos músicos da Orchestra Triptyque. Alguns convidados especiais subiram ao palco, como os cantores Akira Kushida, Mitsuko Horie e Ichirou Mizuki. O concerto foi lançado em CD no mesmo ano.
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